reprodução do encarte autografado
Já faz algum tempo que a música popular produzida no Maranhão, a despeito de sua manipulação política nas últimas décadas, vem dando sinais de renovação e reinvenção.
Bastaram alguns poucos anos de alternância no mando político estadual e uma minúscula quebra no escancarado e midiático apadrinhamento, com dinheiro público, de parcela significativa dos agentes produtores musicais do Maranhão, somados a uma nova geração de músicos, instrumentistas e produtores ávida por uma criação livre dos padrões fechados e obedientes, para haver uma mexida qualitativa na produção da nossa música popular. E já não era sem tempo.
Desde o disco de Cesar Teixeira, Shopping Brazil, lançado há alguns anos, passando pelos lançamentos de Cláudio Lima, de Bruno Batista, Flávia Bitencourt, Lena Machado, Marconi Resende, dentre outros poucos, tem-se sentido na produção musical do Maranhão uma nova perspectiva. Sem receitas, é verdade. Cada um a seu modo buscando, com maior liberdade, inclusive estética, tocar no e/ou do seu lugar, com todas as consequências identitárias e sonoras que essa condição do local traz como resultado. Mas também tocar e cantar no seu tempo, com tudo o que isso significa em termos de informações, influências e compreensão dos avanços tecnológico e comunicacional, numa era de trocas instantâneas, que essa nova geração absorve sem traumas.
O melhor de tudo é que se percebe na música dessa nova turma um profundo zelo também pelo que foi encontrado na prateleira da tradição. Provam que para fazer o novo não é necessário negar o passado, muito pelo contrário.
Um desses novos nomes que surge agora, embora esteja há algum tempo nessa história, é o compositor, cantor e violonista nômade Gildomar Marinho. Nascido em Santa Inês, às margens do Pindaré, crescido musicalmente em Impertriz, na beira do Tocantins, e amadurecido e formado na faculdade de música em Fortaleza-Ce. Na terra de Fagner, Fausto Nilo e Patativa do Assaré, Gildomar teve intensa convivência com a nata da produção musical daquele estado.
Depois de retornar ao Maranhão, na condição de bancário, circula por diversas regiões e municípios, empreendendo também intensa pesquisa musical nos mais diferentes rincões deste plural estado.
Com toda essas matrizes pulsando em seu sangue musical, mas atento aos acontecimentos políticos e culturais do planeta, Gildomar Marinho acaba de gravar, já à disposição do público, o seu primeiro disco, o Olho de Boi. Com esse CD Gildomar nos oferece um trabalho consistente em termos de informações culturais e musicais que apresenta, dando conta do fino e irônico compositor que é.
Seu disco bebe nas fontes dos seus muitos quintais, mas também traz a amplitude de uma parabólica aberta às novas e diferentes informações. De modo que além do samba, do choro, do baião, do forró, do coco, Gildomar Marinho nos apresenta funk, blues, tango e reggae. Tudo isso se sincretizando, abrindo-se ao diferente e ao novo. O resultado não poderia ser melhor. Arranjos inventivos e inovadores, incorporam distintos elementos musicais, sem forçar a barra, criando um disco prazeroso de ouvir do começo ao fim.
Acho que isso também facilitado por dois elementos principais. Primeiro, por Gildomar ser um profundo conhecedor e estudioso musical, daí se permitir fazer combinações, a priori, improváveis; segundo, pela grande qualidade dos músicos que arregimentou para feitura do seu disco, capazes de dar conta, com refinado resultado, dos arranjos e fusões pensados para o seu trabalho de estréia.
Músicos como o violonista Luiz Júnior, o acordeonista Rui Mário, o flautista João Neto, os percussionistas Carlos Piau e Luiz Claudio, o cavaquinhista Robertinho Chinês, o baixista Léo Costa, o guitarrista e arranjador Robertinho Nobre, o baterista Júnior Batera, além do próprio Gildomar no violão, dentre outras feras, deram o timbre instrumental necessário para tornar o cd Olho de Boi um agradável e agora indispensável companheiro de viagem e cabeceira.
Outra figura de agradabilíssima participação presente em Olho de Boi, é a cantora mineira Ceumar que, de Amsterdã na Holanda, gravou participação especial na faixa Alegoria de Saudade, um belíssimo samba-choro de autoria de Gildomar.
Olho de Boi entra definitivamente para a galeria dos melhores discos já produzidos por aqui, que o Brasil e o mundo saberá ouvir.
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