Arquivo do mês: julho 2009

Olho de Boi – do Maranhão para o mundo, uma nova música


reprodução do encarte autografado

Já faz algum tempo que a música popular produzida no Maranhão, a despeito de sua manipulação política nas últimas décadas, vem dando sinais de renovação e reinvenção.
Bastaram alguns poucos anos de alternância no mando político estadual e uma minúscula quebra no escancarado e midiático apadrinhamento, com dinheiro público, de parcela significativa dos agentes produtores musicais do Maranhão, somados a uma nova geração de músicos, instrumentistas e produtores ávida por uma criação livre dos padrões fechados e obedientes, para haver uma mexida qualitativa na produção da nossa música popular. E já não era sem tempo.
Desde o disco de Cesar Teixeira, Shopping Brazil, lançado há alguns anos, passando pelos lançamentos de Cláudio Lima, de Bruno Batista, Flávia Bitencourt, Lena Machado, Marconi Resende, dentre outros poucos, tem-se sentido na produção musical do Maranhão uma nova perspectiva. Sem receitas, é verdade. Cada um a seu modo buscando, com maior liberdade, inclusive estética, tocar no e/ou do seu lugar, com todas as consequências identitárias e sonoras que essa condição do local traz como resultado. Mas também tocar e cantar no seu tempo, com tudo o que isso significa em termos de informações, influências e compreensão dos avanços tecnológico e comunicacional, numa era de trocas instantâneas, que essa nova geração absorve sem traumas.
O melhor de tudo é que se percebe na música dessa nova turma um profundo zelo também pelo que foi encontrado na prateleira da tradição. Provam que para fazer o novo não é necessário negar o passado, muito pelo contrário.
Um desses novos nomes que surge agora, embora esteja há algum tempo nessa história, é o compositor, cantor e violonista nômade Gildomar Marinho. Nascido em Santa Inês, às margens do Pindaré, crescido musicalmente em Impertriz, na beira do Tocantins, e amadurecido e formado na faculdade de música em Fortaleza-Ce. Na terra de Fagner, Fausto Nilo e Patativa do Assaré, Gildomar teve intensa convivência com a nata da produção musical daquele estado.
Depois de retornar ao Maranhão, na condição de bancário, circula por diversas regiões e municípios, empreendendo também intensa pesquisa musical nos mais diferentes rincões deste plural estado.
Com toda essas matrizes pulsando em seu sangue musical, mas atento aos acontecimentos políticos e culturais do planeta, Gildomar Marinho acaba de gravar, já à disposição do público, o seu primeiro disco, o Olho de Boi. Com esse CD Gildomar nos oferece um trabalho consistente em termos de informações culturais e musicais que apresenta, dando conta do fino e irônico compositor que é.
Seu disco bebe nas fontes dos seus muitos quintais, mas também traz a amplitude de uma parabólica aberta às novas e diferentes informações. De modo que além do samba, do choro, do baião, do forró, do coco, Gildomar Marinho nos apresenta funk, blues, tango e reggae. Tudo isso se sincretizando, abrindo-se ao diferente e ao novo. O resultado não poderia ser melhor. Arranjos inventivos e inovadores, incorporam distintos elementos musicais, sem forçar a barra, criando um disco prazeroso de ouvir do começo ao fim.
Acho que isso também facilitado por dois elementos principais. Primeiro, por Gildomar ser um profundo conhecedor e estudioso musical, daí se permitir fazer combinações, a priori, improváveis; segundo, pela grande qualidade dos músicos que arregimentou para feitura do seu disco, capazes de dar conta, com refinado resultado, dos arranjos e fusões pensados para o seu trabalho de estréia.
Músicos como o violonista Luiz Júnior, o acordeonista Rui Mário, o flautista João Neto, os percussionistas Carlos Piau e Luiz Claudio, o cavaquinhista Robertinho Chinês, o baixista Léo Costa, o guitarrista e arranjador Robertinho Nobre, o baterista Júnior Batera, além do próprio Gildomar no violão, dentre outras feras, deram o timbre instrumental necessário para tornar o cd Olho de Boi um agradável e agora indispensável companheiro de viagem e cabeceira.
Outra figura de agradabilíssima participação presente em Olho de Boi, é a cantora mineira Ceumar que, de Amsterdã na Holanda, gravou participação especial na faixa Alegoria de Saudade, um belíssimo samba-choro de autoria de Gildomar.
Olho de Boi entra definitivamente para a galeria dos melhores discos já produzidos por aqui, que o Brasil e o mundo saberá ouvir.

Morre Aluísio Canhoto

Recebí agora há pouco a triste notícia do falecimento do velho bandolinista maranhense Aluísio Canhoto. Natural de Araioses, Aluísio era presença costumeira em algumas das rodas de choro mais informais de São Luís.

Lembro do velho Aluísio de umas rodas de boemia que aconteciam aos sábados nos bairros do Vinhais e Bequimão. A do Vinhais acontecia alí por trás da Curva do Vento. Começava bem cedo da tarde. Lá se tocava e cantava de tudo. A do Bequimão acontecia um pouco mais tarde no Bar do S. Manoel, pra onde todos se dirigiam após o encontro do Vinhais que acabava sempre por volta das 18 horas.

Nessas rodas, algumas presenças eram assíduas e marcantes. Aluísio, com seu bandolim tocado solto, lembrava um pouco o estilo de Luperce Miranda, era sempre uma presença marcante. Junto com o velho Aluísio estavam sempre nomes como Agnaldo 7 Cordas, acho que seu mais fiel parceiro, o velho Ataíde, o amigo Sena do afoxé, João Evangelista e tantos outros músicos e boêmios de final de semana.

Outro momento importante que vivenciei com Aluísio Canhoto, foi uma tocata na Casa do Six, há uns dez anos, alí na Rua Santo Antônio, em frente ao antigo prédio da Escola de música do Maranhão. Foi um dia inteiro de muito choro, comida, confraternização, bem ao estilo do velho Six. Estavam presentes, além do Six e do Aluísio, nomes Edson 7 Cordas, integrante do grupo Os Ingênuos, da Bahia, o Mario Pereira, grande saxofonista capixaba radicado no Rio, Jorge Cardoso, na época morando em São Luís, hoje um dos maiores bandolinistas do País, além de Juca do Cavaco, Agnaldo, Sena do Afoxé, Solano, Paulo Trabulsi, este humilde blogueiro e tantos outros amigos do Six.

Mas Aluísio, ao lado dos seus fiéis amigos Sena, Zequinha do Sax, Agnaldo 7 Cordas e outros chorões, continuava a fazer suas rodas de choro de caráter mais informal, livre e aberta. Tenho notícia de que estavam se reunindo ainda todos os sábados em um novo barzinho por trás da Igreja do Bequimão.

Ontem mesmo, no Chorinhos e Chorões, fazia menção, no quadro Alô Chorão, ao trio de amigos, Aluísio Canhoto, Sena e Agnaldo 7 Cordas.

O velho Aluísio, com seus 72, partiu. Foi tocar Choro ao lado de Vieira, Capitão Nuna, Zé Hemetério, Lopes Bogéa e outros que foram antes.

Segue em paz velho Canhoto.

O Urubu Malandro recebe Milla Camões no Clube do Choro.


Essa era a formação original do grupo Urubu Malandro


No 7 cordas, o mestre Domingos Santos, o homem de Miritiba


No trombone de vara, o pequeno gigante Osmar do Trombone, de
Cajarí para o mundo. O homem das muitas gerações


No surdo e voz, o mestre saudoso Antônio Vieira, uma saudade


No cavaquinho, o tricolor Juca do Cavaco, o adjetivável


Na flauta, o inventivo João Neto, o coringa

Na percussão, mestre Arlindo Carvalho, o polivalente.

Essa, com exceção do Mestre Vieira, que já partiu, mas acrescido do jovem Caio Carvalho, ao lado do pai Arlindo na percussão, é a rapaziada que recebe a excelente Milla Camões, neste sábado no Clube do Choro.

Juntar um grupo de bambas instrumentistas como esse à voz e ao talento formidável de Milla Camões, é de fato um prato sonoro raro, oferecido aos mais exigentes paladares musicais.
Bom apetite!

[crédito fotos: Pedro Araújo]

Bar do Léo: apenas 48 horas para acabar, desaparecer


foto: do blog “Só blônicas

É isso mesmo. O museu Musicultural “Bar do Léo”, com todo o seu rico e significativo acervo da nossa cultura, em suas mais diversas áreas da produção artistica e cultural, tem apenas 48 horas para acabar.

Os imbecís que tomaram essa decisão não conseguem enxergar naquele espaço fabuloso, admirado no Maranhão, no Brasil e até no exterior, algo além de um mero bar. Por isso decretaram o fim do Bar do Léo.

Um lindo e aprazível espaço já visitado e reverenciado por figuras consagradas como Yamandú Costa, a dupla Zé da Velha e Sivério Pontes, Paulinho Pedra Azul, Severino Filho (d’Os Cariocas), Matheus Nachtergaele, Zeca Baleiro, Fagner, Nonato Luís, Turíbio Santos, Luís Nassif e tantos outros.

Leonildo Peixoto, o Léo, acaba de ser informado pelo advogado de sua cooperativa, que só lhe restam apenas 48 horas para desocupar o imóvel que ele tanto zelou e valorizou.

Se você não conhece o Bar do Léo, aproveite, corra, leve os amigos, os filhos, as pessoas que você mais ama. São Luís pode perder nas próximas horas, um dos mais respeitáveis espaços de fruição e deleite cultural.

Se você já o conhece, aproveite hoje, ou quem sabe amanhã, se ainda houver tempo, e se despeça de um dos mais interessantes espaços de vivência boêmio-cultural do país que você já encontrou. Se nada for feito pra impedir essa barbaridade, essa ignorância lapidar, a partir de sábado nem mel nem cabaça. Adeus Bar do Léo.

Por favor, passe essa notícia adiante, pros seus amigos, contatos nacionais, autoridades, enfim, o que você puder fazer.

Talvez, amanhã seja a última sexta feira do Bar do Léo. Vamos todos lá?

Urubu Malandro e Milla Camões – outra grande pedida no Clube do Choro


foto: Pedro Araújo

O projeto Clube do Choro Recebe tem sido, há quase dois anos, um espaço privilegiado de vivências e encontros musicais extraordinário. A cada sábado um grupo de Choro diferente recebe um nome deste mosaico musicultural que é o Maranhão. Sem abrir mão de acolher nomes também de outras praças, como já ocorreu com instrumentistas e cantores do Piauí, do Ceará, de Brasília, do Pará e de outras partes do Brasil e do mundo.

O certo é que esta movimentação, em torno do Choro em São Luís, tem provocado inquietações, trocas, influências, reflexões e tem até suscitado novas experiências estéticas na nossa produção musical. O que logo será bem perceptível aos ouvidos mais atentos e sensíveis musicalmente. Isso só pra falar dos aspectos artísticos e estéticos.

Mas outros resultados também já podem ser mensurados e percebidos no campo da economia do Choro e da música de modo geral. O Choro do Maranhão ganhou maior visibilidade interna e externamente. Hoje todas as praças chorísticas do Brasil sabem que no Maranhão tem um movimento de Choro respeitável e com uma cara própria. Em São Luís o mercado para a música instrumental cresceu significativamente a partir dessa movimentação do projeto Clube do Choro Recebe. Temos opções de choro na capital quase todos os dias da semana.

É inegável que o formato do projeto inspirou outras iniciativas. E era isso que se queria. Ver o choro, a música instrumental acontecer. Os nossos grandes instrumentistas sendo protagonistas da nossa cena musical, ao invés de meros acompanhadores de cantores. Hoje os nomes dos caras já são citados como nossas estrelas em seus instrumentos. E isso é bom. Outros nomes ainda vão surgir.

O elo que falta para esse projeto é unir tudo isso com a formação. Sem a formação não há aprimoramento, não há continuidade da história e da cidadania. Esse é um desafio que todos temos. Precisamos pensar juntos como superá-lo.

Vejamos pois o que o jornalista Zema Ribeiro anda anunciando para o próximo sábado, dia 18/07, no Clube do Choro. Por certo, outro belo encontro, que possibilitará novas trocas e um lindo espetáculo de música brasileira do Maranhão:

AS VOLTAS DO URUBU MALANDRO E MILLA CAMÕES

Urubu Malandro volta ao palco do Clube do Choro Recebe. Grupo será anfitrião da cantora Milla Camões.

O grupo Urubu Malandro volta a se apresentar no Clube do Choro Recebe (Restaurante Chico Canhoto, Residencial São Domingos, Cohama), neste sábado (18), a partir das 19h30min. Depois do falecimento de Mestre Antonio Vieira, em abril passado, o grupo formado por Arlindo Carvalho (percussão), Caio Carvalho (percussão), Domingos Santos (violão sete cordas), João Neto (flauta), Juca do Cavaco e Osmar do Trombone fez uma única apresentação: um tributo ao compositor de Cocada, no mesmo palco, dia 9 de maio, quando Vieira completaria 89 anos.

Desta vez a trupe de bambas terá como convidada a cantora Milla Camões, que está em estúdio, finalizando seu disco de estreia, sob a direção musical de Celson Mendes (Quinteto Bom Tom). O lançamento está previsto para acontecer ainda em 2009. No início do mês, Milla realizou o show A caminho (Zig Bar, 4/7), celebrando seus dez anos de carreira.

Sua apresentação anterior no Clube do Choro Recebe já tem mais de um ano. Agora ela volta, acompanhada por outro grupo: “É a primeira vez que canto acompanhada pelo Urubu Malandro. Em homenagem a Seu Vieira vamos fazer Na cabecinha da Dora”, promete Milla Camões, que adianta, ainda, sobre o show, que fará “dois choros clássicos e um repertório mais voltado ao samba e à MPB, como chamam por aí, com canções de Rosa Passos e Caetano Veloso, além de sambistas consagrados como Paulinho da Viola”. Sobre o restante do repertório, ela prefere guardar segredo. E arremata: “espero de coração que saia bem legal e que todos gostem”.

O projeto Clube do Choro Recebe tem apoio cultural de TVN São Luís, Energético Hiro, Honda Gran Line, Rádio Universidade FM e parceria de JL Studios e Solar Consultoria.

SERVIÇO

O quê: Projeto Clube do Choro Recebe – 86ª. edição.
Quem: o grupo Urubu Malandro recebe a cantora Milla Camões.
Quando: dia 18 de julho (sábado), às 19h30min.
Onde: Restaurante Chico Canhoto (Residencial São Domingos, Cohama).
Quanto: R$ 8,00 (entrada).
Maiores informações: pelo telefone [98] 3252-1219 e/ou e-mails ricochoro@hotmail.com, chicocanhoto@ymail.com e/ou clubedochorodomaranhao@gmail.com
Apoio Cultural: TVN São Luís, Energético Hiro, Honda Gran Line, Rádio Universidade FM.
Parceria: JL Studios e Solar Consultoria.

Luciana Rabello no Chorinhos e Chorões


Alguns momentos do bate papo que vai ao ar domingo
Fotos: Henrique Jr.

O programa Chorinhos e Chorões desse próximo domingo, dia 12 de julho, apresenta um bate papo deste humilde blogueiro e radialista com a cavaquinhista carioca Luciana Rabello.

Para quem não conhece, Luciana Rabello é hoje uma das principais referências do Choro em todo o Brasil. Sua participação como exímia cavaquinhista e ativista musical em importantes movimentos e projetos de valorização e difusão do gênero, a coloca, ao lado de nomes como Maurício Carrilho, como uma das principais personagens da renovação do Choro, pós Jacob do Bandolim.

O primeiro grupo de choro que Luciana Rabello fez parte, já em 1977, ao lado do irmão Rafael Rabello – e de outros jovens talentos – , ainda adolescentes, foi Os Carioquinhas. Esse jovem grupo já prenunciava pela qualidade de seus integrantes, os rumos que o choro tomaria daí em diante. E embora o período de longevidade de Os Carioquinhas não tenha sido lá muito longo, mas ainda gerou um belíssimo LP, “Os Carioquinhas no Choro”. Claro, um disco há muito esgotado e até hoje não lançado em cd. Portanto, uma relíquia, quase uma peça arqueológica.

Depois d’Os Carioquinhas, veio a Camerata Carioca no inicio dos anos 80, da qual Luciana também fez parte. A convivência com Radamés Gnattali e com toda uma nova geração de músicos, redefiniria os rumos que o choro tomaria daí em diante nos mais diversos aspectos. Luciana Rabello sempre como figura ativa em todo esse processo de renovação do choro.

Nosso bate papo gira em torno dessas questões todas. Mas, claro, sobra tempo, entre uma conversa e outra, para a gente ouvir algumas belas criações da Luciana, outras pérolas que criaram em sua homenagem e até duas faixas de “Os Carioquinhas no Choro” vão rolar, dentre outras belezas, curiosidades e revelações desse papo.

O Chorinhos e Chorões vai ao ar aos domingos, das 9 às 10 horas da manhã, na Universidade FM.

TRIBUTO A VIEIRA NA UNIVERSIDADE


Ricarte Almeida Santos entre os amigos de Vieira que participaram da homenagem

Zema Ribeiro postou em seu blogue, o áudio do Chorinhos e Chorões especial que fizemos em homenagem a mestre Vieira (12/4/2009). Abaixo, em quatro blocos, sem intervalos comerciais, o áudio daquele programa. Viva Vieira!, para sempre vivo em nossa memória.

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