Arquivo do mês: março 2016

“Pinto que se junta com pato acaba morrendo afogado”- eu já vi esse filme antes

Existem muitas formas de se analisar as manifestações de ontem contra a “corrupção”(sic). Eu mesmo já li uma dezena, cada uma delas com um tempero, com uma percepção diferente.

Tem análise pra todos os gostos e preferências.

Alguns dos texto fazem ironia; outros procuram ver os prós e os contras, que tipo de resultado tudo isso vai gerar a partir daí; alguns, ainda, tentam dimensionar numericamente o tamanho da manifestação; outras análises enfatizam a natureza contra PT, contra o Governo e contra Lula. das manifestações. Essa é, de longe, a mais corriqueira.

Botemos os pés no chão.

Tentar atribuir ao PT, à presidenta Dilma e ao Lula a culpa de tudo parece ser o caminho mais fácil. É, pode ser! Afinal o PT está a frente do governo há mais de uma década. Não tem como dissociar. E Lula e Dilma deviam saber disso.

É argumento comum daqueles que defendem o governo que este governo fez muito pelos mais pobres, “que nunca antes na história desse país” se garantiu o acesso de tantos a tantos benefícios e políticas sociais, como a partir dos governo petistas. E isso também é verdade.

Mais vagas nas universidades públicas e privadas, acesso a casa própria, programas de pós-graduação, de intercâmbios internacionais, incentivo ao consumo e ao crédito, geração de empregos, enfim, todos sabem. O PT e seus governantes não fizeram mais do que sua obrigação!

Embora muito ficou ainda por ser feito. Seguramente as tarefas mais importantes para que o país avançasse, do ponto de vista de superar as estruturas da desigualdade, Lula perdeu as oportunidades de fazê-las.

A popularidade de Lula alcançou índices inacreditáveis, chegando a picos inéditos em toda história do país, de 82% de aprovação popular de um presidente da república. Algo incrível mesmo!

Dessa forma Lula teria a legitimidade do voto popular que o elegeu presidente por duas vezes; teria a legitimidade da sua história, reconhecida internacionalmente, de um simbolismo ímpar; e teria, ainda, a legitimidade do momento, dos estratosféricos índices de popularidade que alcançou com o resultado de suas políticas sociais e da sua capacidade de liderança e comunicação.

Com tanta legitimidade que lhe favorecia, em vez de liderar as reformas política, tributária, agrária e a dos meios de comunicação, todas já passando do tempo de serem feitas, preferiu patinar, rastejar com seu surrado pragmatismo político em busca da tal governabilidade.

Para tanto, abriu mão do seu legado histórico e político, de valor simbólico extraordinário, para dar passagem ao vaselinado “Lulinha paz e amor”. Esse, usando de todo malabarismo macunaímico para conciliar Deus e o diabo na terra do sol.

E haja rebolar para agradar velhas raposas como Sarney, Jáder Barbalho, Renan Calheiros, Romero Jucá, dentre outras figura de igual catinga. Tudo em detrimento das bandeiras de luta, da construção de uma cultura participativa e de cidadania que já vinha em curso desde os anos 80.

Não deu outra, é como diz meu amigo Valdivino Silva, líder quilombola, “pinto que se junta com pato acaba morrendo afogado”.

Agora os patos, nadadores natos, bons de lama que são, subirão a barreira do lamaçal, sacudirão a lama da plumagem, se cobrirão de verde e amarelo, alguns trocarão até de bico, de modo a parecerem um pássaro novo. E a multidão, patrioticamente, a aplaudir, “passamos o país a limpo”!

É, eu já vi esse filme antes!