Se hoje é impossível imaginar suas ruas e avenidas com essa calmaria toda, estes belos registros fotográficos de autor (por mim) desconhecido, servem também para ajudar a gente a refletir sobre o processo de transformação porque a cidade passa.
Se o calor escaldante, na casa dos 40 graus centígrados, o excesso de veículos automotores e o trânsito a cada dia mais conturbado, a poluição visual que insiste em esconder a beleza arquitetônica da cidade, a violência crescente, já nos assustam, tornando a nossa cidade quase insuportável, esse quadro promete acentuar-se ainda mais nos próximos anos.
A iminente implantação de grandes investimentos/projetos/mega negócios nas imediações e no interior da Ilha, nos oferecerá um conjunto de sequelas que tende a comprometer ainda mais as condiçõs de vida por estas praias e casarios.
Uma mega refinaria de petróleo, duas usinas termoelétricas, novas siderúrgicas, a ampliação da área e capacidade operacional da Alumar e Vale, enfim. E no bojo disso tudo outros investimentos oportunistas. Esse quadro todo de grandes empreendimentos, sempre na cifra dos bilhões de dólares, tende a atrair a atenção e um grande fluxo migratório para a capital.
Não se trata de querer cristalizar a cidade no tempo, de ser contra o desenvolvimento. Não, não é isso. O que se quer é chamar a atenção para a responsabilidade com a cidade e seus habitantes. A cidade é também a sua gente que constrói cotidianamente sua História; é o lugar do exercício do direito, da cidadania. É o lugar de viver, do labor, da fé, de resignificar seus valores e tradições. É o lugar da festa, da celebração. É também o lugar da fruição livre do que ainda é belo. Enquanto existe.
Segundo estudiosos, dentre os muitos impactos que a cidade vai experimentar, um vai ser o grande incremento populacional, nos próximos dez anos, sem precedentes na sua história. Não é sem motivos a retomada da especulação/expansão imobiliária em larga escala na Ilha.
Temo que no afã, na euforia de atrair esses negócios para o Maranhão, os governantes e os órgãos de controle ambiental tenham sido “benevolentes”, ao ponto de mascarar os reais efeitos disso tudo. E, com isso, vende-se uma panacéia. “É o progresso, o desenvolvimento enfim chegando!”.
Essa estória já se ouviu muito por aí (e por aqui também). Bom, mas que progresso é esse se a desigualdade só aumenta, via os indicadores de exclusão social que só se agravam; se as condições ambientais e de vida na cidade são a cada dia mais insustentáveis.
Estas antigas e belas fotos nos ajudam a tentar imaginar, olhando para passado, com os pés no seu chão hoje, como será a nossa cidade amanhã?!