Um domingo desse, durante o
Chorinhos e Chorões, programa que faço há 21 anos, na rádio
Universidade FM, recebí um telefonema de um ouvinte, que queria me mostrar o trabalho musical de uma tal Terezinha de Jesus. Confessei, na ocasião, a minha ignorância em relação à referida artista.
Era o professor Luís Inácio Oliveira, da Universidade Federal do Maranhão, que pretendia me apresentar gravações de uma cantora potiguar que, segundo ele, nos anos 70 e início dos 80, figurou na cenário nacional com um belíssimo trabalho musical, dígno do reconhecimento do grande público. Mas que logo caíra no esquecimento, em um certo e cruel ostracismo.
É claro que sendo curioso em assuntos da música brasileira, manifestei interesse de imediato. Ele ficou de providenciar então materiais com as gravações mais chorísticas da cantora Terezinha de Jesus.
Recebí esta semana um envelope contendo um CD com gravações de dois LP’s da Terezinha e uma carta do professor, falando do seu contato com a obra da cantora. Desde quando ele conseguiu ainda adolescente seus primeiros discos, até uma visita que fez recetemente a ela, em Natal, interessado que estava em saber do paradeiro, dos rumos da grande artista nordestina, que não mais apareceu no cenário musical e midiático brasileiro.
Junto com esse material o professor me enviou também um texto meio que biográfico da cantora, desses catados na internet, que me dava uma idéia geral da carreira de Terezinha de Jesus. Mas que, perto de sua emocionada e significativa carta, se tornaria até acanhado, não fosse a ignorância quase completa deste radialista e blogueiro, até então, em relação a essa cantora.
A audição do CD e a leitura da carta do professor deram-me uma completa noção do valor e do significado da cantora Terezinha de Jesus no cenário musical brasileiro, sobretudo, dos anos 70, quando ela fez parte de uma geração de grandes artistas que renovaram a música brasileira, com novas propostas poético-musicais e interpretativas. Me tornei um fã de sua doce e delicadamente árida expressão musical.
Figurou ao lado de nomes como Mirabô, Moraes Moreira, Luíz Melodia, Fagner, Cláudio Nucci, Zé Renato, Capinam, Paulinho da Viola, Sivuca, Dominguinhos, do maranhense Zé Américo, além de ter mantido contatos com Lupicínio Rodrigues, Nelson Cavaquinho e João do Vale. Daí seu repertório inovador, mas sem perder o fio condutor da tradição dos grandes mestres.
Terezinha de Jesus, além de bela, para usar uma definição do professor Luís Inácio, trazia uma “voz nova (…), com seu belo timbre, com um leve sotaque e um frescor de menina, lembrando a voz da Gal Costa nos seus inícios(…)”. E não era só.
Terezinha de Jesus, então jovem, sensível e inteligente, oriunda do Rio Grande do Norte, carregada de informações e sotaque nordestinos, em plena Rio de Janeiro dos anos 70, integrante de uma nova geração de músicos e compositores, em efervescência política e cultural, parecia ter a noção do que fazia, dos recados que queria dar, através de sua bela música.
Ao todo gravou 6 discos, alguns nem chegaram a ser lançados em CD. Todos há muito esgotados.
Hoje, aos quase 60 anos de idade, Terezinha de Jesus vive em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Leva uma vida humilde e reclusa, em um bairro simples da capital potiguar, longe dos holofotes e microfones. Mas sua voz, seu delicado canto ficaram registrados, em momentos grandiosos e sublimes da música popular brasileira, que jamais poderiam ter caído no esquecimento.
O Chorinhos e Chorões, neste domingo, 19 de setembro, às 9 horas da manhã, graças ao professor e ouvinte Luís Inácio Oliveira e à contribuição do blogueiro Zema Ribeiro – os dois estarão no programa -, traz a lume novamente, essa grande estrela da música brasileira, Terezinha de Jesus.