Arquivo do mês: novembro 2012

João Manoel: “Não precisa, eu já pensei”

João Manoel também tem das suas. Estava eu passeando com os filhotes, domingo à tarde, início de noite, na pracinha da Litorânea. A praça muito cheia de vendedores de tudo. Artesanato, espetinhos de gato, quinquilharias eletrônicas, brinquedos luminosos, enfim.

João Manoel, meu filho mais novo, um tanto hiperativo que é, quer tudo ao mesmo tempo agora.

Mesmo estando sobre uma moto de brinquedo (que se aluga por lá) queria ao mesmo tempo comprar todos os brinquedos que via.

Meu trabalho era convencê-lo – tarefa das mais difíceis – de que “cada coisa na sua hora”. Mas o carinha invocou-se com um brinquedinho luminoso, desses que vêm da China ou do Paraguai. É tudo muito colorido, barulhento, impossível da criança não despertar a cobiça.

João Manoel, diante de minhas explicações e argumentos, já havia se convencido em querer só um brinquedo, pra ele já uma enorme concessão, diante de tantas tentações possíveis.

Mas, ainda tentei adiar o gasto, preservando o saldo da carteira para futuras despesas da noite, que só estava iniciando, apresentei meu último argumento: “filho vamos entregar a moto, que o tempo já acabou e depois a gente pensa nisso”.

João, com a espontaneidade das crianças me reponde com uma firmeza impressionante: “não precisa, eu já pensei”!

Não me restou outra saída, senão meter mão na carteira e comprar não um, mas dois brinquedos, já que Maria Júlia acabara de chegar na conversa e exigia também o seu!

Mas tivemos uma linda noite de domingo na pracinha ao lado do mar e do amor.184784_186398878061997_100000756577321_374801_3658322_n

Zeca Baleiro, um genial artista, um grande cidadão!

O Cantor e compositor Zeca Baleiro, que ontem participou – e hoje volta a  participar – do show “Milhões de Uns” do amigo Joãozinho Ribeiro,  manifestou-se, em esclarecedora nota, sobre sua possível participação no governo municipal de São Luís como secretário de Cultura.

Vale a pena ler a nota – abaixo – de Zeca e ver a postura de um artista e cidadão, republicano, ciente de  seu papel como produtor cultural, sem fugir ao debate claro e aberto sobre essas questões de políticas culturais no Maranhão, tão caras e corrompidas neste chão de oligarquias e vassalagens culturais, ainda que tenham vozes dissonantes! veja abaixo:

ZECA BALEIRO SE MANIFESTA SOBRE CAMPANHA NAS REDES SOCIAIS

Zeca Baleiro

Este texto é para agradecer a mobilização que foi feita nas redes sociais há cerca de um mês pedindo o meu nome para Secretário Municipal de Cultura de São Luís do Maranhão. Naturalmente fiquei lisonjeado com a “campanha”, uma iniciativa de fãs, entusiastas e amigos, mesmo que não tenha sido feito nenhum convite oficial.Nunca havia passado pela minha cabeça o projeto de assumir um cargo como o de Secretário de Cultura, mas é claro que, uma vez deflagrada a campanha, minha mente sonhadora se perdeu em mil projetos e devaneios. Sonhei festivais, editais, ocupação artística da área histórica, revitalização de fato, oficinas, intercâmbios e troca de conhecimentos com o resto do país. Sempre lutei, à minha maneira e com as armas que tinha, por uma vida cultural proativa, intensa e autossuficiente nas cercanias do Maranhão, estado cuja diversidade cultural e racial ímpar faz dele um dos grandes tesouros do país (ainda que bastante escondido).Mas o cargo de Secretário Municipal de Cultura é um cargo político, e mais que político, burocrático. E eu, por mais que me esforçasse, não me sentiria capaz (não neste momento pelo menos) de desempenhar a função como devida. Sou um artista, e é dessa maneira que sinto que posso ajudar no desenvolvimento cultural do meu lugar de origem. Mas não tenho ilusões. Não se muda o cenário cultural de uma cidade, estado ou país com atitudes paternalistas ou favores de balcão (cultura que aliás sempre imperou no Maranhão), mas sobretudo com uma discussão madura sobre o tema e uma proposta efetiva e plausível de política cultural. Infelizmente o Maranhão – e São Luís a reboque – está ainda na pré-história do debate político sobre cultura, como de vários outros debates (e faço aqui uma exceção honrosa a alguns guerreiros solitários como os amigos Joãozinho Ribeiro e Josias Sobrinho).

O que vigora é a “politicagem” mais estéril e infrutífera (frutífera apenas para os bolsos dos beneficiados, que não são poucos) e a briga de interesses tacanhos de grupos políticos e/ou partidários. Ora, a cultura é um bem comum, e deveria estar acima de interesses deste ou daquele. Mas não á assim que acontece, infelizmente.

E assim vai-se levando a carruagem, dando esmolas à nobreza da cultura popular e enriquecendo os cofres de joões-ninguéns articulados e bem relacionados, mas sem nenhum comprometimento com o fazer cultural. Minto, pois eles têm sim um comprometimento com a cultura – a cultura do dinheiro, sujo de preferência, e ganho às custas do suor de poetas, pintores, escritores, músicos, grafiteiros, atores ou simplesmente amantes da arte e da beleza. Enriquecem enquanto morrem à míngua felipes, leonardos, tetés, nivôs e toda a realeza mestiça espalhada (e esquecida) nos guetos de nossa outrora “Ilha Rebelde”.

Pois é justamente o que falta à nossa cidade: rebeldia. Rebeldia de verdade, visceral, guerreira, suicida quem sabe. Aprender a não bater continência aos absurdos e desmandos de governantes, sejam quais forem. Aprender que fazer cultura é muito mais que administrar orçamentos de Carnaval e de São João, prestigiando grupos não por talento ou mérito, mas por retribuição a sei lá que “tenebrosas transações”.

Há muitas pessoas capazes em São Luís – artistas ou não – para ocupar o cargo de Secretário de Cultura. Espero que o prefeito eleito tenha a sabedoria de escolher uma pessoa honesta e realmente comprometida com os rumos culturais da cidade. Nenhum governo, em nenhuma esfera, pode ser considerado “vitorioso” se não se basear no tripé básico Saúde + Educação + Cultura. Desejo sorte a ele e à cidade durante seu mandato.

E se por acaso acontecer de um dia eu ser de fato convidado para cargo semelhante, espero estar à altura de merecê-lo, e ser capaz de fazer metade do que sonho como projeto cultural ideal para minha cidade, cidade que amo, apesar de todos os pesares de toda relação de amor, que pode (e deve) ser crítica, por que não? Isso não torna o meu amor menor. Nem minha revolta. Sim, revolta contra as almas mesquinhas que querem apequenar o que nasceu para ser grande e belo e altivo, como a nossa Ilha de Upaon-Açu, grande desde o nome até o seu destino.

26 de novembro

Zeca Baleiro
www.alicenopaisdasmaracutaias.blog-se.com.br