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De todas as acusações que pesaram sobre o então candidato Flávio Dino nessas últimas eleições, passada a disputa pela prefeitura de São Luís, duas parece que vão continuar batendo à sua porta pelo menos até outubro de 2010. A primeira, de ser um autêntico representante do grupo Sarney; e a outra, de ser um sujeito arrogante.
Cabe, no entanto, a bem da verdade, para verificar a legitimidade e autenticidade ou não de tais afirmativas, saber quem fala e de onde fala. Qual o dono – ou os donos – desse discurso; e o lugar de onde falam; ou, pelo menos, melhor discutir histórico e politicamente os incômodos adjetivos que lhe foram e são emprestados compulsoriamente.
Talvez nesse esforço dê até pra enxergar um sujeitinho novo de idade, de bochechas rosadas, bem criado, sentado numa “preguiçosa” na varanda de sua fazenda, dando ordens aos seus subservientes capatazes. Poderia até ser, quem sabe, uma cena típica brasileira dos anos 20 ou 30 do século passado, pintada em tela por Cândido Portinari, um dos expoentes do movimento Modernista Brasileiro que, rompendo com o padrão clássico europeu das artes, pintou grandes quadros e painéis, expostos mundo afora, retratando cenas e personagens do cotidiano brasileiro da primeira metade do século XX.
Um coronelzinho soberbo. Roberto Rocha, herdeiro das proezas políticas de seu genitor, que fora também talhado para ser governador na outra casa grande, a da capital como leal seguidor do coronel maior, o compadre José Sarney.
Imagine os gestos de camaradagens típicos do coronelismo prolongado do Maranhão. As juras de lealdade eterna. As crianças se confraternizando em aniversários, festas, nos corredores do Calhau e dos Leões ou até mesmo em Brasília; nos pegas noturnos, nas então acanhadas avenidas e ruas de São Luís. Foi um tempo feliz para aquelas crianças, Zequinha, Robertinho, Fernando, Rochinha, Roseana. Foi assim nesse universo familiar da oligarquia maranhense que foi forjado o “novo” e “humilde” deputado Roberto Rocha.
Outro quadro importante na sua configuração e aprendizado político foi o governo de seu Pai, do qual o próprio Roberto se orgulha de ter sido um exemplo de lealdade não recíproca ao Coroné Sarney. Donde se conclui que seu odioso rompimento com sua raiz genealógica-política central, tenha sido mais em função de contrariedades doméstico-familiares do que propriamente fruto de descontentamento com o futuro do Maranhão.
Quando tentamos lembrar das marcas do Governo Luíz Rocha para o desenvolvimento do Maranhão, o que nos vem à mente é que foi um momento de grande truculência policial. Foi o período de maior crescimento da grilagem no estado; de maior repressão aos trabalhadores rurais e defensores da reforma agrária, inclusive de lideranças religiosas. Recordo que os bispos do Maranhão por unanimidade, liderados por D. Paulo Ponte, excomungaram a dupla do terror, o governador Luiz Rocha e seu inominável secretário de segurança Coronel Silva Júnior.
Outra marca significativa desse período foi o enriquecimento injustificável de algumas poucas famílias do Maranhão, que sem nenhum grande empreendimento anterior aquele governo, imediatamente após, emergem com vultosos patrimônios, que vão de grandes fazendas, complexos de comunicação, imóveis urbanos comerciais, concessionárias de automóveis, dentre outros. Alguns amigos próximos após aquele governo se tornaram expoentes da agropecuária nacional. E o Maranhão bem mais pobre. É essa a cultura política do “novo” tucano Roberto Rocha.
Sua visão econômica provinciana, direitista e obediente ao tucanato paulistano é simplesmente defensora do estado mínimo, da corriola da especulação, como o financiador-mor do PSDB, Daniel Dantas. Gente desse mesmo calibre que gerou a atual crise econômica mundial. Rocha é representante periférico dessa visão que submete o trabalho e a produção à especulação, que submete o público à lógica privatista. Para essa gente, políticas sociais significam gastos. “Temos que enxugar a máquina” é a cantilena. Responsáveis que são pelo aprofundamento abissal da desigualdade no Brasil depois dos oito anos de FHC.
O resultado das eleições em São Luís parece que antecipa o debate sucessório de Jackson Lago. É impressionante, após a revelação das urnas, a quantidade de cartas, artigos, notas nos jornais, em blogs, continuando o processo de desconstrução da imagem do ex-juiz federal e agora deputado Flávio Dino. A emergência de Flávio Dino como provável unificador do campo popular e democrático, chamado de esquerda, parece ter mexido com os interesses e brios coronelescos de Roberto Rocha, que se acha na fila há mais tempo.
Até militantes históricos das lutas democráticas, combatidos por Castelo e os Rocha em muitas frentes de batalhas pelos Direitos Humanos, inclusive com sangue derramado, com vidas ceifadas, se escondem no dito anti-sarneysismo, a vergonha de ter votado obedientemente em Castelo. Alguns nem a tem, mostram a cara com garbo e galhardia, como num velho desfile das tropas militares. Tudo justificado pelo combate à oligarquia.
Será que não compreendem que oligarquia não se resume a uma única família ou grupo, mas a um conjunto de práticas, que infelizmente não foi banida? As diferentes oligarquias regionais e locais que antes estavam juntas em um só bloco hegemônico lideradas pelos Sarney, se reaglutinaram em outro ramo, havendo uma fragmentação e um reordenamento dos grupos oligárquicos. Mas as práticas continuam as mesmas.
Dino também pegou a pecha de ser um sujeito arrogante. Alguns até o compararam a Collor de Melo. Triste ironia do destino. Quem sempre esteve com o arrogante Collor até o melancólico fim do seu desastroso governo foi João Castelo. Flávio Dino estava com Lula desde sempre, em todas as campanhas. Do lado das lutas populares, pelos Direitos Humanos, pela Democracia, na defesa dos trabalhadores, contra Collor. Qual então é mesmo a verdadeira arrogância, o real sentido materializado da arrogância?
Ter altivez, ser preparado para o debate, não se curvar ante aos poderosos, saber argumentar técnico e politicamente, é sinônimo de arrogância? Ter boa atuação nos espaços e cargos públicos que ocupou? É essa a arrogância de Flávio Dino?
Ou qual será a arrogância violenta física e simbolicamente? Quem se acha portador do direito de se apropriar das riquezas públicas?, de enriquecer quando está no governo, de massacrar e criminalizar movimentos sociais? Quem se acha no direito de ser organizador da fila do exercício do poder? Não seria esse o real e concreto sentido da arrogância? Disso tem pássaro “novo” do bico grande que entende muito bem.