Arquivo do mês: agosto 2010

Mateus, 23

O texto do evangelho de Mateus 23, escrito há mais 2 mil anos, parece ter saído hoje do forno, neste chão, tal sua atemporalidade e seu contexto bem maranhenses.

A propósito de mais um julgamento hoje no CNJ, passo a lembrar aqui alguns trechos do Capítulo 23 de Mateus:

“Os doutores da Lei(…) tem autoridade para interpretar a Lei(…). Por isso vocês devem fazer e observar tudo que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los(…). Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros.”

“(…)Gostam dos lugares de honra nos banquetes(…), gostam de ser cumprimentados nas praças públicas , e de que as pessoas os chamem doutores.”

“Ai de vocês doutores da Lei(…)quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

“(…) vocês exploram as viúvas e roubam suas terras e, para disfarçar, fazem longos discursos! Por isso, vocês vão receber uma condenação mais severa (…)”.

“(…)Guias cegos! vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo”.

“(…)por fora parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça.(…)Vocês constroem sepúlcros para os profetas e enfeitam os túmulos dos justos, e dizem: ‘se tivéssemos vivido no tempo dos nossos pais, não teríamos sido cúmplices na morte dos profetas’. “



“(…)É por isso que envio a vocês profetas e sábios: a uns vocês matarão e crucificarão a outros torturarão nos tribunais de vocês, e os perseguirão de cidade em cidade. Desse modo virá sobre vocês todo sangue inocente derramado sobre esta terra (…)”


“(…)Eu garanto a vocês: tudo isso acontecerá a essa geração.”

Palavra da salvação.

De tal modo que, qualquer parecença com nossa realidade, (não) terá sido mera coincidência. É o evangelho falando alto aos dias de hoje.

Grande encontro de blogueiros e tuiteiros progressistas do Maranhão

Lideranças populares irão representar contra Procuradora Geral de Justiça

Insatisfação popular se dá pela morosidade do Ministério Público: representação contra prefeitos inadimplentes está prestes a completar dois meses, sem andamento.

POR ZEMA RIBEIRO

Nos últimos dias 22 e 23 de junho foi realizada em São Luís a I Marcha do Povo contra a Corrupção, que culminou com a divulgação de uma lista de prefeitos municipais inadimplentes, isto é, que até então não haviam apresentado a prestação de contas do exercício fiscal de 2009, que a haviam apresentado fora do prazo, de maneira incompleta e/ou que não a encaminharam ao Tribunal de Contas do Estado.

Na ocasião, dos 217 municípios maranhenses, apenas 18 entregaram, dentro do prazo, as prestações de contas nas Câmaras de Vereadores, para consulta por parte da população. Lideranças populares assinaram e protocolaram uma representação contra os gestores inadimplentes. A Procuradoria Geral de Justiça deveria ter instaurado procedimentos contra os prefeitos, mas até agora a representação não teve andamento.

O prazo legal para tal é de 30 dias. Em 3 de agosto, já passado o prazo, foi apresentada à PGJ uma petição requerendo a tramitação, sequer respondida.

Nova representação – Insatisfeitos com a morosidade do Ministério Público, lideranças populares assinarão, amanhã (19), representação contra a Procuradora Geral de Justiça Maria de Fátima Rodrigues Travassos, a ser protocolada no Conselho Nacional do Ministério Público. “O comportamento da procuradora, na condição de chefe do Ministério Público, apenas reproduz, ou endossa, a mesma atitude que já se reclamava da maioria dos promotores que atuam nas comarcas do interior, observada há pelo menos três anos. A população busca o MP, mas raramente as representações são encaminhadas”, observa Iriomar Teixeira, assessor jurídico das Redes e Fóruns de Cidadania do Maranhão.

“A presidente da Associação do Ministério Público do Maranhão estava presente quando protocolamos a primeira representação e comprometeu-se a acompanhar o procedimento. Esperamos que amanhã ela assine a representação que seguirá para o Conselho Nacional do Ministério Público”, continua.

Casos emblemáticos – Casos de três municípios são apontados como emblemáticos entre os quase 200 que têm problemas na prestação de contas, no que diz respeito à morosidade na tramitação dos procedimentos, o que acaba beneficiando os gestores descumpridores da lei. Em Cantanhede a representação foi protocolada no dia 16 de abril e a prestação de contas só foi apresentada 80 dias depois, ainda de forma incompleta e até agora não há ação de improbidade contra o mandatário.

Em Lago dos Rodrigues o promotor recomendou que o presidente da Câmara Municipal deixasse as contas do município disponíveis para consulta, o que nunca foi cumprido. Uma representação por improbidade administrativa foi protocolada contra o mesmo por impedir o acesso a documentos públicos, sem nenhum andamento até agora. No município corre a notícia de que funcionários demitidos ano passado constam da folha de pagamentos municipal. Detalhe: o desembargador Jamil Gedeon suspendeu liminar de reintegração dos mesmos, no dia 25 de dezembro de 2009, uma sexta-feira, feriado nacional, sob a alegação de que “o Município teria um enorme dispêndio com a implantação de 22 (vinte e dois) novos servidores na folha salarial”.

Em Santa Luzia, no último dia 17 de abril, agentes populares protocolaram representação contra o atual prefeito e o ex-prefeito por não apresentarem a prestação de contas. Só em 5 de agosto, quase 100 dias depois, os mesmos foram acionados judicialmente, por improbidade administrativa.

Quanto aos casos dos municípios em que a prestação de contas encontra-se à disposição da população nas Câmaras de Vereadores, os articuladores sociais constataram, em alguns municípios, ainda segundo Iriomar Teixeira, que “a documentação entregue não está só incompleta, mas é diferente da encaminhada ao TCE. Isto inviabiliza o trabalho da cidadania e dos órgãos de fiscalização. Podemos estar diante da maior fraude já praticada contra a administração pública”.

As lideranças populares se reunirão amanhã, às 9h, na sede da Cáritas Brasileira Regional Maranhão, de onde seguirão para a sede da Procuradoria Geral de Justiça, no Centro de São Luís.

Link original: http://tribunalpopulardojudiciario.wordpress.com/2010/08/19/liderancas-populares-irao-representar-contra-procuradora-geral-de-justica

Chorinhos e Chorões no Chorinhos & Chorões

É isso mesmo. No terceiro programa da série especial “Agosto de Jacob”, o Chorinhos & Chorões apresenta o LP Chorinhos e Chorões, do genial bandolinista Jacob do Bandolim, gravado em 1961, pela RCA Victor.

O histórico LP Chorinhos e Chorões, marcava a estréia de um novo grupo para o acompanhamento de Jacob do Bandolim, o que até então tinha sido tarefa do Regional do Canhoto.

Mas Jacob queria e sonhava com seu próprio conjunto. Desejava ter como colocar em prática suas idéias, suas propostas musicais, definir melhor seu estilo. Queria, na verdade, ter mais autonomia, como grande criador que era. E o Regional do Canhoto já era um grupo consolidado, de renome, com pouco espaço para grandes mudanças.

Daí ter arregimentado um nova trupe de bambas. Os músicos que formavam esse novo grupo, que estreou ao lado de Jacob no LP Chorinhos e Chorões, seriam a base do que depois se tornaria o conjunto Época de Ouro. Conjunto que o acompanhou até sua Morte em 69.

Rigoroso e preciosista que era, Jacob perseguia uma formação instrumental perfeita, que aliasse boa sonoridade, talento e disciplina. Jacob era mesmo linha dura, exigente na pontualidade, no esmero musical, no número de ensaios. Vivia se reclamando de que ensaiavam pouco.
Mas olha só a formação desse regional que estreava em LP ao lado do mestre Jacob. Tinha o, ainda, jovem Jonas, no cavaquinho centro; nos violões de 6 cordas os precisos César Faria e Carlinhos Leite; no contra baixo, Luís Marinho; no pandeiro Gilberto; no tamborim, Barão; no reco-reco Pedro Santos; e no sete cordas, o inseparável Horondino, o Dino 7 cordas. Aí meu camarada, era conjunto pra nunca mais ter fim.

É tanto, que até hoje o Época está aí em plena atividade.

E de tão satisfeito com o resultado daquela nova formação, Jacob escreveu um longo texto de apresentação na capa do disco, do qual transcrevo aqui um pequeno trecho. “Creio mesmo, que a perfeição de seu acompanhamento dispensara nossos solos. Para isso cada elemento, obedecidas certas convenções, teve inteira liberdade para expandir-se e improvisar. Todavia souberam dosar seu talento, evitando cruzamentos ou perturbações à linha melódica”. palavras de Jacob do Bandolim.

De fato são notórias a qualidade, a precisão do acompanhamento desses instrumentistas. É um disco memorável, não só pelos detalhes dessa história, como pela qualidade dos músicos e pelo repertório de apurada escolha. Nisso o Jacob também era meticuloso. Santa Morena, Assanhado, Ameno Resedá, Os Cinco Companheiros, Bola Preta, dentre outros, integram o repertório desse LP memorável.

O Chorinhos & Chorões – o programa – vai ao ar neste domingo, 14 de agosto, às 9 horas da manhã, na rádio Universidade FM, 106,9.

Meu Pai, um Juruca inteiro de saudades

foto: album de família

Nessa passagem do dia dos pais, quero relembrar, com muito amor e saudades sem fim, do meu querido Raimundo Juruca. Republico, abaixo, um texto que publiquei aqui neste espaço e no Jornal Pequeno em agosto de 2008.

JURUCA, O MEU MESTRE DO CHORO

Por Ricarte Almeida Santos

O meu mestre do Choro não foi Pixinguinha, o mais notável de todos os chorões; também não foi Jacob do Bandolim, o mais preciosista dos mestres do Choro; muito menos Waldir Azevedo, o maior cavaquinhista de todos os tempos. Também eu não sou nenhum instrumentista de choro. Se quer arranho qualquer instrumento.

Meu mestre do Choro, assim como seu pupilo, também não tocava patavina, como ele gostava de falar. Mas foi com ele que eu aprendi a gostar de Choro. Foi ele quem me apresentou Jacob do Bandolim pela primeira vez. Foi com o meu mestre do Choro que eu conheci Pixinguinha, Zequinha de Abreu, Dilermando Reis, Saraiva, Noca do Acordeon, Nelson Gonçalves, Luís Gonzaga, Anísio Silva, Abdias, Marinês, Domingos Pecci e tantos outros mestres brasileiros da música.

Lembro com enorme saudade e uma pontinha de orgulho das inúmeras, incontáveis noites que adormeci ao som de “Saxofone, por que choras”, clássico do Ratinho. Nas minhas memórias de menino esse choro ficou imortalizado por Domingos Pecci, um dos saxofonistas preferidos do meu mestre . Outro choro que embalava minhas noites iluminadas à lamparina e candeeiro na pequena Santa Teresa do Paruá, foi “Lágrimas de namorados”, do já saudoso saxopranista Saraiva. O meu mestre adorava. Eu também. E ainda nem sabia.

Para acordar logo cedo, me recordo das notas e melodias de “Não me toques”. Música de Zequinha de Abreu, que lá em casa se ouvia ao som do mais cristalino dos bandolins, o de Jacob e seu Conjunto Época de Ouro. Claro, em LP, tocado em radiola Philips automática, à pilha, já que em Santa Teresa não havia energia elétrica.

Puxava-se o braço do pequeno aparelho para traz para ligá-lo e quando o grande disco começava a rolar no prato da vitrola, colocava-se a pequena agulha de cristal sobre o vinil e iniciava-se a audição dos meus primeiros choros. Ao terminar de tocar a última faixa de um dos lados do LP, a radiolinha desligava automaticamente. Para se ouvir as faixas do lado B por exemplo, virava-se o disco repetia-se a operação.

Assim lá em casa dormia-se ouvindo alguns dos mais belos choros sem a preocupação de ter que desligar o aparelho. Foi assim, dormindo e acordando, que aprendi a gostar dessa música. O Choro de vinil em radiola de pilha fez parte do meu sono, dos meus sonhos, do meu acordar cotidiano ao lado do meu mestre. Faz parte da minha vida.

Meu mestre se chamava Raimundo Natividade dos Santos. Para alguns, Raimundinho Juruca ou só Juruca. E era o meu querido Pai. Uma figura ímpar na minha vida, em todos os aspectos.

Juruca, além de grande pai, carinhoso, às vezes ríspido, portava-se, hoje posso ver, como um mestre do Choro para mim. Tratava com absoluto zelo seus LP’s.Toda vez que ia ouví-los era um verdadeiro ritual. Desde a escolha do disco, sua retirada da capa de papel e do plástico que o revestia, até a limpeza cuidadosa com uma espécie de esponja umedecida com um líquido especial, passada repetidas vezes em movimentos circulares sobre as faces do vinil.

Demonstrava conhecimento sobre os instrumentistas e compositores. Fazia comentários sobre eles. Gostava de atribuir títulos de nobreza a alguns. Para Juruca, Jacob era “rei do bandolim”. Saraiva para ele era “o rei do saxoprano” . Waldir Azevedo, “o rei do cavaquinho”. E assim o Juruca, o meu mestre do Choro, ia definindo verdadeiras monarquias instrumentais, que para mim serviram como parâmetros. Me ajudaram a perceber quem era quem no jogo dos instrumentos. Sempre tentava me convencer, e a todos, que o Choro era a nossa grande música. E eu fui acreditando nisso.

Outro costume curioso do mestre Juruca, acontecia quando aparecia alguém em sua farmácia ou em alguma roda de conversa se dizendo violonista, por exemplo. Para tirar a prova dos nove, Juruca exigia logo que o afoito tocasse “Marcha dos Marinheiros”, de Américo Jacomino. Para ele, uma música de difícil execução. Teste cabal para qualquer pretenso violonista. E caso contrário, o camarada estava desmoralizado como instrumentista.

Se o sujeito se dizia Sanfoneiro, aí desafio era outro. A ordem era tocar “Escadaria”, clássico do acordeon, de autoria de Pedro Raimundo. Se o dito instrumentista titubeasse frente à difícil Escadaria, pronto. Perdia a moral como acordeonista para Juruca.

E assim eu fui absorvendo essa música, cheia de beleza e de uma saudade inexplicável que eu não sabia do quê. E que agora, sem o meu mestre por perto, se explica. Eu já sei do que é aquela saudade que tem no Choro. Era a falta do meu mestre Juruca que eu já sentia antes mesmo de perdê-lo.

Se ouço “Saxofone, por que choras”, consigo ver seu rosto, cada detalhe, seu riso de dentes perfeitos de satisfação quando ouvia esse belo Choro. É o seu retrato chorístico. Vou emoldurar esse som e pendurá-lo no meu coração para sempre.

Daí também meu compromisso com o Choro, enquanto música, enquanto identidade, também como possibilidade de conquista e garantia de direitos. Portanto, a “tarefa” de difundi-lo entre os mais jovens, de partilhar com os mais pobres. Convencer também as outras pessoas que Choro é a nossa grande música. É também uma forma de me manter perto d’Ele, de diminuir a saudade que me faz triste.

Se o meu mestre do Choro fosse vivo, no próximo 8 de setembro faria 70 anos de vida. A mim restou a saudade, os ensinamentos e o “Chorinho de Herança”.

[texto escrito por Ricarte Almeida Santos para compor um livro sobre a vida de Raimundo Juruca, que seus filhos estão escrevendo e postado aqui por ocasião da passagem do Dia dos Pais]

Keyla Santana apresenta solo teatral. Imperdível

Juntou-se agora a Zumbi e a Negro Cosme: Morreu Magno Cruz

Acabei de saber do falecimento do amigo querido Magno Cruz.

Magno Cruz havia feito uma longa cirurgia para retirada de um câncer no pâncreas. A notícia que se tinha é que tudo havia transcorrido dentro da normalidade. Infelizmente fomos surpeeendidos agora cedo com a notícia de sua morte.

Cruz foi um histórico militante, um lutador, um guerreiro na defesa do Povo Negro e na luta pelos Direitos Humanos no Maranhão. Sem dúvida uma baixa sem tamanho nas trincheiras dos mais oprimidos.

Magno Cruz com seu jeito simples, carinhoso e sereno sabia com firmeza decifrar os caminhos da luta, sabia discernir os rumos no meio das conturbadas contradições da caminhada e seguir na direção do essencial, a defesa e o respeito à vida e à dignidade do ser humano.

Perdi, além de uma amigo querido, um companheiro de luta, um ouvinte carinhoso do Chorinhos e Chorões. Daqueles que ligam para comentar o programa, dizer que se emocionou com um disco mostrado, com uma música, com o texto trabalhado, enfim.

O Chorinhos e Chorões agora chora. Um pranto de saudades, de um grande amigo!

Salve, Guerreiro Magno Cruz !