Arquivo do mês: abril 2010

O Choro no Maranhão e o Dia Nacional do Choro


Pixinguinha ao centro, ao saxofone

Há muito que o choro se faz presente pelas bandas de cá. Seja como influência na Música do Maranhão, como informação, base instrumental, ou na estrutura mesmo das crias de nossos melhores compositores. Isso pode ser percebido facilmente nas obras de Chico Maranhão, Cesar Teixeira, Joãozinho Ribeiro, Antônio Vieira, Lopes Bogéa, Cristóvão Alô Brasil, Chico Saldanha, Josias Sobrinho, Chico Canhoto, Chico Nô, Zeca Baleiro, etc., etc.

Seja também o Choro enquanto Choro, instrumental, camerístico, virtuosístico. No rico acervo do Pe. João Mohana é possível pescar várias peças que datam já de meados do século XIX, outras já do início do século XX. Portanto, o Maranhão está na história do Choro desde o começo. Não esqueçamos, por exemplo, que o autor da letra de Flor Amorosa (a música é de Joaquim Antônio Callado), considerada oficialmente o primeiro Choro da História, é de um maranhense: Catulo da Paixão Cearense.

Recentemente Maurício Carrilho, importante violonista brasileiro, chorão militante, da geração da Camerata Carioca, desenvolveu uma pesquisa sobre a produção chorística brasileira do século XIX, intitulada Choro Carioca – Música do Brasil. Esse trabalho rendeu a gravação de 144 músicas em 9 cd’s, pela gravadora Acari Records. Lá constam duas composições chorísticas do grande compositor, violinista, tenor e regente maranhense Antônio Rayol.


O Urubu Malandro (na foto ainda com o saudoso Mestre Antonio Vieira) é uma das várias formações chorísticas em plena atividade na São Luís contemporânea

Cidades da Baixada como Viana, Cajari, Penalva, São Bento e Bequimão, entre outras, são celeiros tradicionais de grande chorões. É sabido por todos a forte tradição musical e chorística dessas praças maranhenses. Regionais de choro, bandas de sopro, instrumentistas virtuoses, escolas de música, dentre outras manifestações chorísticas. Cabe, sem dúvida, uma pesquisa cuidadosa sobre o tema e políticas públicas que fomentem essa produção.

O Cd Choros Maranhenses, do grupo Instrumental Pixinguinha, ligado à Escola de Música do Maranhão, gravado há cinco anos, que privilegia nossos compositores, é outra manifestação inequívoca da força e da beleza do choro no Maranhão.

No capítulo mais revolucionário da história recente do choro nacional, que foi a Camerata Carioca, influenciada por Radamés Gnattali, que muda a postura dos chorões ante as possibilidades amplas do choro, lá estavam dois maranhenses: os violonistas João Pedro Borges e Joaquim Santos.

O programa Chorinhos e Chorões, no ar há 21 anos, pela rádio Universidade FM, tem sido um vetor de difusão e articulação dos chorões no Maranhão, potencializando todas as iniciativas ligadas ao gênero, como os projetos Clube do Choro Recebe, Chorinho no Cantinho, Sinhô Samba e Choro e tantos outros que apareçam.

É de bom tom também lembrar – há quem esqueça – que, de uns anos pra cá, coincidentemente com o surgimento do Clube do Choro, o Choro como movimentação instrumental tem sido uma manifestação musical que ocupa os palcos e microfones da Ilha todos os dias, todas as semanas, todos os meses do ano.


O Clube do Choro Recebe caminha para três anos ininterruptos de sucesso

Os encontros semanais do projeto Clube do Choro Recebe, ano III, cumpre o papel animador do encontro do Choro, a grande liguagem instrumental brasileira, com a diversidade musical do Maranhão, em busca do novo, de reiventar a tradição. E olha que os resultados, ainda que sem o apoio necessário, já são vistos a olhos nus.

São novos grupos de choro que surgem, intercâmbios com outras praças, o reconhecimento nacional da força do choro no Maranhão, novos cantores e cantoras assumindo o choro como influência importante em seus novos trabalhos, a renovação do repertório chorístico com o aparecimento de novos compositores, o surgimento de jovens chorões na cena musical de São Luís, experimentações chorísticas apartir do sotaque e das manifestações da cultura popular do Maranhão, enfim, o choro sorri por aqui todos os dias, coletivamente, em alto e bom som.

Não esqueçamos também que hoje, sexta feira, dia 23 de abril, às 18 horas, na praça Valdelino Céccio, na Praia Grande, será celebrado por todos os chorões da Ilha, em grande Sarau, um Tributo a Pixinguinha, a inspiração do Dia Nacional do Choro.

Salve o Dia Nacional do Choro, salve Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha!

Salve Francisco de Assis Carvalho da Silva, Salve Six!

Sexta-feira, dia de Léo


Parafuso, Zema Ribeiro e Léo, personas mui gratas, em visita ao Clube do Choro

Confesso que sexta feira não é meu dia de Bar do Léo. É muito cheio, tem muito barulho, não se consegue ouvir o melhor produto do lugar, a música de seu rico e diversificado acervo.

Mas, uma sexta-feira dessas, cansado que estava, resolvi passar logo cedo por lá, pra tomar umazinha só, dar uma espairecida. Como eu previa, ainda não estava cheio. Léo ainda estava tranquilo e calmo.

Me agasalho logo em um banco alto, na parte do balcão que fica logo na entrada do disputado recinto. Léo me cumprimenta e manda uma de suas diligentes garçonetes me servir a gelada. Vez em quando ele passa, conta um causo, uma piada, faz um comentário. À medida que o bar vai enchendo, esses momentos e o bom humor do Léo igualmente vão desaparecendo.

Uma hora depois, em um carrão novo e vistoso, chega um rapaz, com pinta de bacana, meio enviezado, é verdade. Olhava muito pro carro, parecia demonstrar preocupação com seu valioso “carango“. Acomodou-se no outro banco próximo ao meu, de modo que pudesse manter sob vigilância seu belo veículo.

Assim que se sentiu seguro, o rapaz emendou em alto e “bom” som. “Ei, Léo!ei, Léo!” Léo só levantou o pescoço, arregalou um olhar assim meio atravessado. Mas o jovem insistia no mesmo tom. “Léo, me traz aí uma antarctica”. Léo prontamente, ainda que engasgado, como é comum nessas situações, veio pessoalmente atender o moço do carrão.

Abriu a cerveja, pôs-se a servir o copo do garotão que, logo no primeiro gole, proferiu de bate pronto: “Léo, essa cerveja ‘tá muito quente, rapaz”. Léo, já mordendo os beiços da raiva, respondeu ainda cortezmente. “Mas a cerveja está na geladeira, quem sabe a próxima esteja mais gelada”. O rapaz não conteve seu aguçado senso de cidadania etílica e questionou na bucha. “Mas essa geladeira tá gelando mesmo?”

Léo, já bufando de ira, desferiu o tiro de misericórdia. “Não, a geladeira ‘tá é esquentando! Quem está gelando é o mocotó, lá no fogão, seu porra!” E saiu rindo de fúria.

O rapaz, de sorriso amarelo, apenas comentou comigo: “Esse Léo tem cada uma!”