Arquivo do mês: novembro 2010

Lena Machado ocupa o Feitiço Mineiro, em BSB


A cantora maranhense Lena Machado, sabiamente vai ocupando seu espaço na cena brasileira da música.

E olha que neste território amplo de tantas grandes cantoras, essa não é uma batalha das mais fáceis.

E nossa tradição nesse campo das vozes femininas da música popular é tanto antiga quanto farta. Podemos lembrar, dentre tantas excelentes cantoras, de Carmen Miranda, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Clara Nunes, Alcione, Maria Bethânia e Gal Costa; das gerações mais recentes, lembro de Marisa Monte, Adriana Calcanhoto, Roberta Sá, Cássia Eller, Rita Ribeiro, Maria Gadu.

Eu poderia ficar aqui numa lista infindável de grandes cantoras que têm surgido aí na cena musical Brasil a fora.

De modo que ocupar um espaço nesse latifúndio midiático que ainda impera no centro sul do país, é lema dígno de um(a) sem terra: “Ocupar, resistir e produzir”.

Lena Machado, em seu segundo disco, depois de arrancar rasgados elogios de Nelson Motta, com talento, graça e valentia finca sua bandeira bem no centro do planalto central, mais precisamente na fazenda , digo, no bar/boteco Feitiço Mineiro, recanto etílico musical de Brasília, por onde já passaram grandes nomes da música brasileira. Uma espécie de latifúndio coletivo da arte, do talento e da boa música.

Lena contará com violão e direção musical de Luiz Júnior, cavaquinho e bandolim de Robertinho Chinês, sax e clarinete de Marcio Bezerra e percussão do neo brasiliense Carlos Pial. Com essa rapaziada tá armada a trincheira, companheiros.

Ocupar, resistir e, por certo, produzir em Brasília um lindo espetáculo de música brasileira, com sotaque desta linda aldeia.

É só o começo.

Mané em forma de música

Mané, o homenageado

Gildomar, o autor de “Batalha do Cerrado”

O compositor maranhense Gildomar Marinho, hoje radicado em Fortaleza-CE, presta em seu segundo cd, Pedra de Cantaria, uma belíssima homenagem a Manoel da Conceição: Batalha do Cerrado, música do próprio Gildomar.

Em breve o cd será lançado também em São Luís.

Ouça Batalha do Serrado clicando aqui.

Manoel da Conceição: "Minha perna é minha classe"

Mané, Doutor Honoris Causa. Uma história de Vida.

Dia histórico na Universidade Federal do Maranhão: A sabedoria popular reconhecida pela academia.

A marginalização da mandioca, a fome, a morte e o modelo

Não é de hoje que o Maranhão é alvo dos chamados grandes projetos. Se fossem mesmo de desenvolvimento, como dizem, já seríamos uma Dinamarca ou uma Noruega, para usar referências deles mesmos.

Essa cantilena aí, empurrada goela abaixo, é a face econômica do modelo político predador, patrimonialista que ainda impera por estas terras, herdado dos nossos colonizadores europeus.

Essa moeda suja e banhada de sangue dos nossos povos negro e indígena é o que garante a perpetuação desse modelo perverso e cruel, na política e na economia.

Uma coisa leva a outra e vise-versa. Ambas levam à morte de nossa gente. Quando não de fome, de bala, na luta pelo seu chão, como ocorreu com Flaviano na comunidade de Charco, São Vicente de Férrer; de trabalho forçado nas fazendas de São Paulo, Mato Grosso; ou até nas cadeias como vimos estarrecidos nestes últimos dois dias, em Pedrinhas.

Se não, como explicar, em pleno século XXI, tanta mão de obra escrava, tanta morte de índios, de trabalhadores rurais na luta pela terra. Como explicar tanta morte de negros e pobres nas nossas masmorras modernas?

Tudo em favor ou em consequência desse modelo de “desenvolvimento”.

Mas essa terra, nós sabemos, é terra de negro. Esse chão é de índio. E não adianta dizer que somos Atenas. Nós somos apenas brasileiros. E isso nos bastará, com orgulho.

Não adianta mais dizer que temos que comer trigo, soja ou folha de eucalipto; que temos que ser eternamente dependentes, colonizados. É hora de resistir pela cultura popular, pelas nossas identidades.

A Rede Mandioca surge desse sentimento, como resistência cultural de nossos pequenos e bravos produtores, ainda invisíveis aos olhos do Estado; das identidades negra e indígena do nosso povo, em reinvenção permanente e, insistentemente, massacradas pela força do chamado desenvolvimento. Veja Alcântara, Estreito, o Baixo Parnaíba, os Gerais de Balsas, Piquiá, Buriticupu, dentre tantos outros exemplos de violação dos direitos humanos em nome do progresso.

A mandioca é o pão do pobre. Em todas as mesas, por mais pobre que seja, lá está a farinha, seja ela de puba (farinha d’água) ou a farinha seca. Seja a tapioca, o beiju, o bolo de puba, uma riqueza sem fim.

Temos seguramente no Maranhão a maior área plantada de mandioca do país. Mas pra essa gente aí, era estratégico negar tudo isso. Necessitavam impor outras culturas, de preferência que viessem de fora. Ou seja, gerar fome para gerar dependência.

Por isso, a soja aí se espalhando toda sobre nossas terras, semeando desmatamento, plantando conflitos, desenterrando a morte pro nosso povo. O eucalipto pintando a paisagem de um falso verde, esparramando um oceano de latifúndio, de desertificação e sequidão. Em curto tempo veremos o resultado, já que algumas consequências, igualmente cruéis, já se experimenta agora.

E o nosso povo morrendo à míngua, engordando apenas os indicadores de mortalidade infantil, de desnutrição e analfabetismo.

E a mandioca aí, sem ser vista, os trabalhadores produtores de mandioca sem assistência, sem crédito, marginalizados pelo Estado. A insegurança alimentar e nutricional instalada com toda força.

Que desenvolvimento é esse?

Estamos chegando a uma situação que nem os protagonistas deste modelo sabem mais como, sequer, aliviar os estrangulamentos, que já comprometem a vida no planeta.

As mudanças climáticas causando morte e pavor em todo mundo. A violência sem limites; a nossa juventude ameaçada pela drogas: o crack já é uma epidemia até entre as crianças.

As periferias urbanas, absolutamente abandonadas, um quadro desolador; a corrupção absoluta em todos os poderes. Tudo isso é o retrato desse modelo exaurido, cujo futuro é o caos.

Na contramão disso tudo, há experiências que apontam noutra direção. Pequenas iniciativas, fundadas no respeito aos direitos humanos, no respeito à biodiversidade, na solidariedade entre as pessoas.

Desde 2004, dentro do programa de Economia Popular Solidária, a Cáritas Brasileira Regional Maranhão, vem acalentando, animando, junto a grupos produtores, esse movimento que se chama Rede Mandioca.

Esta rede que vem sendo tecida por diversos trabalhadores e trabalhadoras, por diversos grupos produtivos, é apenas uma estratégia conjunta de animar a solidariedade entre os pequenos trabalhadores rurais. De fortalecer traços de identidade dessa gente.

Identidades que se fortalecem e se ressignificam também a partir daquilo que nos alimenta o corpo e o espírito, daquilo que dá sentido e movimento para suas vidas.

Este I Festival Estadual da Rede Mandioca, é uma das estratégias de mobilizar para agregar os trabalhadores e trabalhadoras, de chamar a atenção da sociedade, de dar visibilidade pública para esses pequenos produtores e para essa cultura, base alimentar cultural de nossas gentes.

Mobilizar para gerar direitos. Direito de viver em paz, com dignidade; de ter identidade; de se alimentar; de se organizar para produzir e participar; direito de preço justo; de preservar com amor a natureza; de gerar novos saberes e conhecimentos.

Estes são princípios que orientam essa rede de vida e que devem marcar a realização deste festival.

Parabéns a todos os produtores e produtoras de mandioca, que garantem o bom alimento na mesa dos maranhenses.

[texto deste blogueiro, proferido na abertura do I Festival Estadual da Rede Mandioca, ontem, 10 de novembro de 2010 – mais detalhes da programação neste link.

Calem a boca, Nordestinos!

Por José Barbosa Junior

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

Festival da Mandioca


Pesquei no Nassif: Canhoto da Paraíba, uma lenda do Choro

O blog do Luís Nassif é um dos meus preferidos. Por lá, além de temas como economia e política, vez por outra nos deparamos com preciosidades da música brasileira e do choro, em especial.

É que Nassif, além de grande jornalista e economista, é um apurado chorão, exímio bandolinista.

Mas aqui nos vídeos abaixo, um pouco da participação do saudoso Canhoto da Paraíba no programa Ensaio. Uma pérola. um fenômeno. Veja você mesmo:

Momentos de Choro na Ilha

TEXTO E FOTOS: RICARTE ALMEIDA SANTOS (exceto onde indicado)

São Luís recebe(u), de 1º. a 4 de novembro, o V Festival Nacional de Choro. Grandes feras do gênero estão na Ilha.

Nomes como Luciana Rabello (cavaquinho), Toninho Carrasqueira (flauta), Pedro Amorim (bandolim), João Lyra (violão), Cristóvão Bastos (piano) e Celsinho Silva (pandeiro) ministram oficinas junto aos músicos de São Luís, depois de protagonizarem belíssima apresentação no Teatro João do Vale, nesta última segunda feira.

Veja alguns momentos da trupe na Ilha:


João Lyra e Joaquim Santos, mestres de violão


João Pedro Borges, Pedro Amorim e Celsinho, encontro de amigos


João Pedro e João Lyra, dois violões


Cristóvão Bastos e Pedro Amorim


João Lyra e Luciana Rabello, violão e cavaquinho


Carrasqueira, Cristóvão, Amorim, Lyra, Luciana e Celsinho


Pedro Amorim e Ricarte no Chorinhos e Chorões. Foto: Val Monteiro


Conversa franca no Chorinhos. Foto: Val Monteiro


Pedro Amorim e Ricarte. Foto: Val Monteiro