Sobre trechos de Passagens – O Flâneur – pude fazer algumas reflexões da natureza e caráter desse personagem poético, “cria” de Charles Baudelaire, tão bem utilizado por Benjamin para traduzir o espírito do homem da metrópole (Paris) na nascente modernidade.
O desenvolvimento do capitalismo e o consequente crescimento das cidades, no caso específico Paris, enseja o aparecimento de uma nova paisagem urbana e, claro, uma nova forma de vivenciá-la, de experimentá-la, de enxergá-la.
Walter Benjamin busca traduzir essas mudanças através da percepção de como a literatura de então captava tal processo de transformações.
Baudelaire, poeta parisiense, ganha importância extraordinária no trabalho de Benjamin. Os escritos de Baudelaire, segundo Benjamin, traduzem de forma mais próxima e profunda a vida social daquela cidade. Para Ele, revelava com sutileza a relação do homem com a cidade moderna.
Fragmentos, recortes, impressões a partir do que se escrevia sobre a cidade; uma profusão de informações colhidas em jornais, revistas e outros escritos davam de certo modo um tom de flanar pela metrópole registrando olhares sobre a paisagem, opiniões.
Assim a cidade seduzia, convidava a penetrar por suas avenidas, becos e labirintos errantes. Baudelaire afirma que o flâneur se achava envolto, embriagado pelo prazer de se achar em uma multidão. Ao mesmo tempo a cidade representava o espaço sagrado das andanças erráticas, o espaço de expressar suas contradições, de viver suas tensões, alegrias, prazeres e medos.
Na verdade, nesse perambular por galerias, bulevares e mercados o flâneur acaba por não ter a intenção deliberada de explicar a cidade, mas de mostrá-la. Nesse percurso de paixão pela exterioridade da metrópole moderna, pelo efemeridade da cidade, o flâneur se depara com a condição do homem moderno diante da mercadoria, de algum modo uma vítima dessa exposição agressiva e sedutora, tornando-se um embriagado em abandono, anulado pela multidão.
O Flâneur não é um cientista. Ele busca é a experiência, ainda que ingênua, pura; o gosto pelo estético, identificar novos personagens da vida moderna.
Porém, seu olhar sobre a vida da cidade não é um olhar de distanciamento, de contemplação, mas de meter-se nela, misturar-se. Esse exercício oferece a cidade como um espaço a ser lido, um livro por exemplo, um texto. Por que o flâneur também é um leitor da cidade. Embora suas impressões sejam fragmentárias, pouco parciais e distraídas, diga-se de “passagens”.
Nesse ler/escrever ele também se apropria das notícias orais e escritas, como algo já vivido, experimentado, o “simples saber” em transmissão.