Arquivo do mês: junho 2010

Cáritas lança campanha de solidariedade aos desabrigados de Alagoas e Pernambuco

Deu no site do Ministério Público do Maranhão

Virou notícia no site do Procuradoria Geral de Justiça do Maranhão, o momento de culminância da I Marcha do Povo contra a Corrupção.

Depois de percorrerem as ruas e avenidas da cidade, os manifestantes assinaram e protocolaram representação contra os maus gestores municpais (prefeitos e presidentes de câmaras municipais) que deixaram de prestar contas à população de suas gestões ou que prestaram contas fora do prazo.

Leia mais clicando no site da Procuradoria.
[crédito/fotos: Francisco Colombo]

Boff, Maquiavel e o "novo" PT

É um petardo o texto(postado abaixo) do teólogo Leonardo Boff, um dos mais respeitados pensadores brasileiros no mundo na atualidade.

Boff presta solidadariedade aos petistas, especialmente os de Minas Gerais e do Maranhão, que estão sendo sacrificados pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores.

Boff, como sempre, com serenidade, equilíbrio mas, contundente, coloca o dedo numa ferida que só cresce. O empalidecimento do PT, na direção de se tornar um partido desumanizado, cada vez mais entregue ao convencional, ao tradicional jeito de fazer política, às oligarquias apodrecidas de corrupção, responsáveis pelo quadro de desmandos, miséria e violação dos Direitos Humanos no país.

Leia, pois, o belo e forte artigo de Leonardo Boff:

Solidariedade às vítimas do “novo” PT

Leonardo Boff, Teólogo

(artigo que, como o autor diz abaixo, ainda será publicado no JB na próxima semana, mas teve autorização para circular).

Passei um fim de semana lendo pela enésima vez O Príncipe de Maquiavel no esforço de entender a atual política da Direção Nacional do PT. E ai encontrei as fontes que possivelmente estão inspirando o assim chamado “novo PT”, aquele que trocou o poder da vontade de transformar a realidade pela vontade de poder para compor-se com a realidade, notoriamente corrupta, com o propósito de perpetuar-se no poder. Nas palavras do candidato eleito pela convenção do partido em Minas Gerais, Fernando Pimentel e depois invalidado, em nome da aliança com o PMDB: “o PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformá-la… Não somos mais um partido que coloca a ideologia como uma máscara, como óculos escuros para não enxergar a realidade política; operamos com a realidade política do jeito que ela é, para transformá-la”(O Globo 12/6/2010).

Vamos traduzir esse discurso de disfarce. A ideologia básica do PT originário era a ética e as reformas estruturais. O novo PT entende esta ética como uma máscara que não permite enxergar a realidade política do jeito que ela é. Sabemos como é o jeito da política vigente, montada sobre alianças espúrias, sobre a mercantilização das relações políticas e sobre a rapinagem do dinheiro público. Pimentel ainda acredita que com isso se pretende transformar a realidade, como se para transformar uma gangue de bandidos devesse fazer parte dela. A ética foi enviada ao limbo e em seu lugar entraram os conselhos de Maquiavel. Este teve propósito semelhante à Direção do PT: “ir diretamente à verdadeira realidade das coisas e não ater-se a representações imaginárias” (c.XV). Para Maquiavel a verdadeira realidade das coisas é busca tenaz do poder, as formas de conquistá-lo e de conservá-lo. E ai vale tudo; os fins justificam todos os meios: o perjúrio, o assassinato e até o bem se ele trouxer vantagens. As “representações imaginárias” é a ética, o que deve ser. Ela não é posta de lado; até vale desde que favoreça o poder. Caso contrário pode ser atropelada:”não se afastar do bem quando se pode, mas saber usar o mal, se necessário” (c.XVIII). O importante não é ser bom, mas parecer bom. Não há porquê cumprir a palavra empenhada, se ela se volta contra o príncipe pois “jamais faltarão motivos legítimos para justificar o não cumprimento de algo apalavrado”(c.XVIII).

É entristecedor ler em Pimentel:”nesse processo de renovação, alguns companheiros vão ficar no passado”. Estes, na verdade, são os portadores do futuro porque são fiéis à ética e ao sonho de uma política diferente do jeito como é feita. A Direção do PT se rendeu a ela, fazendo alianças escandalosas para se perpetuar no poder e assim se encalacra no passado. O povo não merece ser defraudado desta forma. Não é investindo em políticas assistenciais que se possa substituir-lhe a dignidade. Mesmo assim, há tantos nas bases, prefeitos e vereadores do PT antigo e ético que mantém vivo o sonho e que não abandonam a questão: que Brasil queremos, que ética pública precisamos?

Quero me solidarizar com as vítimas do maquiavelismo do “novo” PT, especialmente em Minas Gerais e no Maranhão. Neste estado está ocorrendo uma tragédia, bem representada pelo histórico sindicalista Manoel da Conceição, de 75 anos, fundador do PT, torturado e mutilado pela polícia das oligarquias entre as quais estão os Sarneys, sendo obrigado a votar em Roseana Sarney do PMDB. Em carta aberta ao companheiro Lula, de fazer chorar, escreve “com ternura e amor de um irmão”: “como eleger essas figuras que me mutilaram, torturaram e mataram dezenas de meus mais fiéis companheiros… isso fere de morte a nossa honra e a nossa história”. Mas o projeto de poder não tem o mínimo sentido humanitário e ético, Maquiavel docuit.

Da mesma forma quero me solidarizar com as vítimas de Minas Gerais, com Sandra Starling, com Patrus Ananias, dos melhores ministros do Governo, com Durval Ângelo, paladino dos direitos humanos e de tantos outros que estão sofrendo indignados.
Nem tudo vale neste mundo. E se Cristo morreu, foi também para mostrar que nem tudo vale e que para tudo há algum limite, pisoteado pelo “novo” PT.

Aqui transcrevo a autorização do Leonardo para que o artigo possa já circular:

Meu caro Ricardo,
Subscrevi meu apoio ao Manoel da Conceição.
Acabo de escrever um artigo contra o maquiavelismo do “novo” PT. Vai ser publicado no Jornal do Brasil da semana que vem. Mas se quiser divulgar, pode faze-lo.
um abraço e continuemos na solidariedade
lboff

Trata-se de RICARDO GALLETTA, ex-vereador do PT em Campinas e ex-membro do Diretório Estadual do PT/SP e que está repassando o artigo, conforme autorização.

É pela esquerda, Zé Dirceu.

Márcio Jerry*

Sabe-se lá insuflado por quem, o ex-ministro Zé Dirceu tem se dedicado nos dois últimos dias a atirar no deputado comunista Flávio Dino, pré-candidato ao governo do Maranhão. Num primeiro post afirma categoricamente em título que “Serra já está no palanque com Flávio Dino”. Num segundo degrada para “Um papelão ridículo”, título de postagem em que tenta provar que Flávio Dino é “serrista”.

Os queixumes de Zé Dirceu no que se refere a uma suposta adesão de Flávio Dino a Serra são desnecessários à luz da realidade. A candidatura de Flávio Dino insere-se num contexto em que amplos setores sociais, especialmente aqueles alinhados com o campo democrático e popular, manifestam-se claramente em favor da renovação política no Maranhão, que pode ser feita concretamente sob hegemonia da esquerda, fato este de inegável alcance estratégico para os que pelejam por uma sociedade socialista. A candidatura é um desdobramento regional das conquistas sob a era Lula e está em absoluta sintonia com os avanços necessários sintetizados no projeto da candidatura Dilma Presidente.

A candidatura está assentada na força dos movimentos sociais e na representação política de esquerda do PCdoB, PSB e amplíssima maioria do PT maranhense. São, portanto, forças políticas na base mais orgânica do projeto liderado pelo presidente Lula; que sustentam esse projeto por afinidade política e ideológica e não por trocas nada republicanas celebradas sob chantagens, como é do feitio, entre outros, do senador José Sarney.

O palanque mais legítimo e LIMPO de Dilma no Maranhão é o liderado por Flávio Dino. É nele, repito, que estão o PCdoB, o PSB e o PT da luta que não se curvou à oligarquia quarentona. No de Roseana Sarney, aliada de Zé Dirceu, estão o DEM, de onde ela migrou recentemente, e o PTB, ambos com Serra; e o PV, da candidata Marina Silva.

Dizer que o palanque de Flávio Dino é o de Serra porque o ex-governador José Reinaldo(PSB) seria “serrista” é quase uma cretinice. Mas é só quase porque talvez seja mesmo desinformação, já que Zé Dirceu parece amparar suas análises em clippings feitos pela famiglia Sarney e não nos fatos concretos. O ex-governador tem dito e repetido à exaustão que apóia, defende e vota em Dilma. Mais do que dito, tem feito, ao participar de eventos pró-Dilma, inclusive no lançamento do comitê “Flávio Dino governador, Dilma Presidente”.

Apontar incoerência porque no passado o PCdoB apoiou Roseana Sarney é manifesta falta de argumentos para justificar a capitulação do PT ao clã Sarney. Ora, são situações absolutamente distintas, contextos completamente diferenciados. O PCdoB de fato apoiou e integrou o governo Roseana Sarney e até pela própria experiência sabe que este é um caminho desastroso para o Maranhão no momento. Na etapa presente da história há no Maranhão uma possibilidade concreta de um caminho pela esquerda, e é nele que trilha a candidatura Flávio Dino.

É injustificável sob todos os aspectos a tentativa de Zé Dirceu em colar Flávio Dino a Serra, deformando a realidade, e em querer exclusivizar Dilma para o palanque de Roseana, que também será de Serra.

Flávio Dino é um destacado parlamentar da base do presidente Lula na Câmara Federal. Pertence a um partido político que desde 1989 mantém uma sólida aliança com o PT, inclusive em todas as disputas presidenciais. E tem uma trajetória pessoal que não permite dúvidas sobre por qual lado trafega na vida e na política. É pela esquerda, Zé Dirceu.

*Márcio Jerry, presidente do PCdoB São Luís, Secretário de Comunicação do PCdoB/MA; coordenador da pré-campanha Flávio Dino governador.

I MARCHA DO POVO CONTRA A CORRUPÇÃO

Dias 22 e 23 de junho de 2.010, militantes sociais das mais diferentes entidades sociais, representando municípios de todas as regiões do Maranhão, irão marchar da entrada do bairro do Maracanã, Km 15 da BR-135, até a sede da Procuradoria-Geral da Justiça, no centro de São Luís, numa demonstração clara da indignação do povo maranhense contra a corrupção.

Além de demonstrar uma atitude, pretendem provocar o povo de são Luís e do maranhão, para que se indigne contra esse crime que viola e destrói direito, compromete a justiça social e fragiliza as instituições democráticas.
É praticamente impossível a efetivação dos direitos sociais, a distribuição de renda e o fortalecimento das instituições do Estado brasileiro enquanto a corrupção for algo aceito como normal, enquanto houver omissão no seu combate, enquanto a certeza da impunidade estiver na mente do corrupto.
Por isso o povo deve se levantar e exigir a punição daqueles que, ao receberem a responsabilidade de cuidar e zelar pela coisa pública, fazem o contrário, desviam, se apropriam, beneficiando a si, seus parentes e aliados.
A primeira marcha será dividida em duas etapas. No dia 22, a partir das 08:00 horas, um grupo de 80 pessoas, depois do ato público no local, fará o primeiro trecho, do Km 15 até o marco zero de São Luís (rotatória do Tirirical), objetivando despertar a população, chamar a atenção, provocar a consciência e a indignação.
No segundo dia, 23 de junho, a marcha irá iniciar às 08:00 horas, com a participação esperada de 600 militantes sociais, dos mais diversos municípios maranhenses, que irão sair da rotatória do Tirirical, seguindo pelas avenidas dos Franceses/Getúlio Vargas, até a sede da Procuradoria-Geral de Justiça, momento em que entregarão representações contra os prefeitos que não prestaram contas para o povo dos recursos recebidos no ano de 2.009.
Na oportunidade irá ser publicada a lista de prefeitos inadimplentes com o povo, gestores que serão representados pelos crimes de responsabilidade e de falsidade ideológica.
Será entregue, também, na ocasião, requerimento para que a Procuradora-Geral de Justiça oficie os Promotores de Justiça sobre a responsabilidade em acompanharem a entrega da prestação de contas e o dever de acionarem os prefeitos que não cumpriram o que determina a Constituição e as leis do país.
Dos 217 municípios maranhenses, até agora somente 18 comprovaram ter entregue a prestação de contas, exercício 2009, nas Câmaras Municipais, para ficarem à disposição da população, a fim de que o povo exerça o direito de análise e verificação, encaminhando aos órgãos de fiscalização do Estado aquilo que houver indício de irregularidade.
A marcha pretende se instituir como ato de controle popular sobre a administração pública, visitando o local da obra pública para comprovar se realmente ela foi executada corretamente.
No próximo ano, irá percorrer, aos moldes da Força Tarefa Popular, que ocorre no Piauí já faz nove anos, os municípios com fortes indícios de corrupção, para não só mobilizar o povo e conscientizá-lo, mas também para ir até o local da irregularidade, apresentando em seguida representação aos órgãos de fiscalização para a tomada de posição.
O ato final está previsto para às 16:00 horas, em frente à sede da Procuradoria-Geral de Justiça, momento em que será divulgada a lista de gestores inadimplentes com o povo, sendo protocolada, em seguida, a representação coletiva contra os mesmos, pelos crimes de responsabilidade e falsidade ideológica.
TODOS CONTRA A CORRUPÇÃO!!!
Coordenação
Fóruns e Redes de Cidadania do Maranhão
[texto e foto: da coordenação do evento]

Fome de coerência: o gesto de Manoel da Conceição

por Wagner Cabral da Costa*

“Os valores do PT não podem ser negociados. Devem ser reafirmados como princípios da reconstrução partidária e ideal dos movimentos sociais” (Manoel da Conceição).


Muito tem se falado sobre a greve de fome, iniciada em 11 de junho, do fundador do PT, Manoel da Conceição, do deputado Domingos Dutra e da ex-deputada Terezinha Fernandes, contra a intervenção do Diretório Nacional que revogou a decisão estadual de apoiar Flávio Dino (PCdoB) para governador do Maranhão, aprovando, em substituição, o nome de Roseana Sarney (PMDB). Parcela expressiva da opinião pública e da imprensa tomou contato (quase) pela primeira vez com a pessoa de Manoel da Conceição. Afinal, quem seria esse “desconhecido”, esse Mané, que ousou desafiar, em gesto radical, a direção do partido no poder e a Presidência, em mais uma capitulação cínica diante da mais velha oligarquia da República?

Filho de lavradores do vale do rio Itapecuru, Manoel vivenciou experiências que lhe propiciaram uma sólida convicção ética, humanista e socialista, de dedicação à causa dos trabalhadores. A começar, ainda na juventude, pela expulsão de sua família por proprietários rurais, violência presenciada ainda em inúmeros outros massacres; depois, a migração em busca de “terra liberta”; a crença evangélica e o início da militância; o envolvimento com o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Igreja progressista; o engajamento na Ação Popular (AP) e a luta pelas Reformas de Base; até o golpe de 1964, quando sofreu as primeiras prisões.
Durante a ditadura militar, Mané se dedicou à organização e educação de trabalhadores rurais na região do rio Pindaré em sua luta contra o latifúndio e pela conquista da terra. Foi alvo de violenta repressão da polícia militar do governo José Sarney (1966-70), sendo baleado e preso em julho de 1968, ocasião em que teve parte da perna direita amputada por falta de atendimento médico. Na seqüência, foi preso pela polícia política (1972) e dado como “desaparecido”, quando foi submetido a sessões de interrogatório e tortura, sendo solto graças à intervenção da AP e da Anistia Internacional. Liberdade breve, pois, mais uma vez, os militares o prenderam, desta vez em São Paulo, com mais torturas e sevícias (1975). Novamente a solidariedade – da Anistia e das Igrejas católica e protestante – conseguiu resgatá-lo das mãos assassinas da ditadura, com o que Manoel partiu para a Suíça (1976), onde permaneceu até a decretação da Lei da Anistia (1979).
No exílio, lançou o livro-denúncia Essa terra é nossa, contando sua história de luta pela reforma agrária e de resistência à ditadura, uma leitura necessária e fundamental para compreender os “anos de chumbo”. Livro que acaba de ser reeditado pela UFMG (com o título: Chão de minha utopia), através do Projeto República, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A ironia não podia ser mais evidente: o mesmo governo petista que, por um lado, promove o resgate de sua memória e história; por outro, lhe recusa o direito de, aos 75 anos, continuar sendo um militante ativo das lutas sociais e políticas – defendendo a democracia interna do partido e a democratização do Maranhão contra a oligarquia patrimonial e golpista. Que resposta obteve Manoel após lançar duas cartas abertas ao companheiro e presidente Lula?
Esse silêncio, no entanto, inexistia em fevereiro de 1980. Pois, na fundação do Partido dos Trabalhadores se pretendeu vinculá-lo organicamente às diversas tradições de luta do povo brasileiro, sendo convidados seis signatários que representavam simbolicamente essas vertentes da esquerda: 1) Mário Pedrosa, escritor, crítico e líder socialista; 2) Manoel da Conceição, líder camponês; 3) Sérgio Buarque de Holanda, historiador; 4) Lélia Abramo, do Sindicato dos Artistas de SP; 5) Moacir Gadoti, que assinou em nome do educador Paulo Freire; e 6) Apolônio de Carvalho, combatente na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa, um dos líderes dos movimentos da resistência popular (Ata da reunião no Colégio Sion – site da Fundação Perseu Abramo).
Dos personagens-símbolo da identidade e dos valores do PT, o único que permanece vivo é Manoel da Conceição Santos, marido amoroso, pai e avô dedicado, brasileiro nascido em 1935 no distrito de Pirapemas, em Coroatá, Maranhão. Era esse “desconhecido”, esse Mané, que se encontrava em greve de fome no plenário da Câmara dos Deputados. Por cima de quantos cadáveres (reais e simbólicos) o PT terá que passar em seu processo de transformação em Partido da Ordem?

Ps.: Poucas horas após o fechamento deste artigo, Manoel da Conceição e Domingos Dutra foram internados inconscientes em Brasília, com risco de vida. A situação forçou o Diretório Nacional do PT a fazer um acordo pelo qual os petistas maranhenses ficaram liberados de apoiar a oligarquia Sarney e ter campanha independente em favor de Flávio Dino. Este acordo encerrou a greve de fome, após uma semana, em 18 de junho de 2010, continuando ambos sob cuidados médicos.

* Wagner Cabral da Costa é Historiador e professor da UFMA. Autor de “Sob o signo da morte: o poder oligárquico de Vitorino a Sarney” (2006); co-organizador de “A terceira margem do rio: ensaios sobre a realidade do Maranhão no novo milênio” (2009). Este artigo foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, suplemento Aliás, domingo, 20 de junho de 2010.

Sábado tem Pedra(…) de primeira no Bar do Léo

Não, não se trata de uma festa regueira no Bar do Léo. Leonildo Peixoto não curte muito o rítmo jamaicano. Trata-se da primeira audição pública na Ilha do mais novo cd, Pedra de Cantaria, do cantor e compositor Gildomar Marinho. Saiba mais, abaixo, no texto do escriba Zema Ribeiro .

PEDRA DE CANTARIA EM PRIMEIRA AUDIÇÃO

Novo disco de Gildomar Marinho terá primeira audição pública no Bar do Léo, em São Luís/MA

Aproveitando uma rápida passagem pela capital maranhense, o cantor e compositor maranhense Gildomar Marinho realizará sessão de audição de Pedra de Cantaria no Bar do Léo (Hortomercado do Vinhais), neste sábado (19), às 20h.

Seu segundo disco, a ser lançado ainda em 2010, foi gravado e mixado em Fortaleza/CE, onde o compositor está radicado por conta de seu ofício de bancário do Banco do Nordeste – de quem o trabalho tem apoio cultural, através do programa Cultura da Gente.

“O disco está sendo masterizado e deve ser prensado em breve, devo lançá-lo no máximo em agosto”, avisa o artista. Do novo disco, dois hits já se destacam: o choro Pra chorar no Rio, parceria com Ricarte Almeida Santos, e o carimbó Batalha do cerrado, homenagem ao líder camponês Manoel da Conceição; a primeira já teve execução no Chorinhos e Chorões, apresentado pelo parceiro, e a segunda já está disponível para audição e download no myspace de Gildomar (http://www.myspace.com/gildomarmarinho). A faixa-título é parceria dele com Zema Ribeiro. Pedra de Cantaria tem 14 faixas.

Serviço

O quê: sessão de audição avant-première do disco Pedra de Cantaria.
Quem: o cantor e compositor maranhense radicado em Fortaleza Gildomar Marinho.
Quando: dia 19 (sábado), às 20h.
Onde: Bar do Léo (Hortomercado do Vinhais).
Quanto: grátis. Presentes pagam apenas o consumo.
Maiores informações: (98) 8888-3722.

[foto de Paulo Caruá]

Lula, insensível, não sabe o que é greve de fome

POR RICARTE ALMEIDA SANTOS

nas fotos, ao alto, Lula e Zé Maria (hoje no PSTU), quando companheiros
no ABC; em seguida, Mané, bem mais jovem, em página de reportagem.

Há uns seis anos participei de um simpósio internacional sobre Dívida Externa e Militarização na América Latina, em Quito, capital do Equador.

Foi uma semana inteira de muito debate e reflexão sobre o assunto com importantes especialistas e ativistas políticos latinoamericanos e convidados de outros continentes.

Um dos objetivos do grande evento era identificar, discutir e articular estratégias de resistência popular ao, então, crescente processo de endividamento e de implantação de bases militares estadunidenses na América Latina, no sentido de garantir respeito a autodeterminação de suas nações e condições de vida digna de seus povos: indígenas, quilombolas, seringueiros, ribeirinhos, quebradeiras de coco, etc.

Esse evento aconteceu no ambiente pós-eleição de Lula e Chávez, como presidentes de Brasil e Venezuela, respectivamente; tempos de discussão da ALCA; do “acordo” com os EUA sobre o uso da Base de Alcântara, enfim, de todo um ambiente herdado do tucanato obediente aos ditames de Washington e das possibilidades que as eleições de Lula e Chávez poderiam representar para uma nova perspectiva para a América Latina, frente ao padrão de dominação até então vigente no continente do hemisfério sul.

Em meio a críticas, incertezas, dúvidas, uma pontinha de esperança, vacinada, emergia das falas dos participantes, populares, palestrantes, conferencistas, etc. Todos reconheciam uma melhor perspectiva, como de fato depois pode-se perceber na AL, toda uma reconfiguração da correlação de forças políticas neste continente.

Foi uma experiência rica que tive convivendo bem próximo, por uma semana, ao lado de figuras como Evo Morales (então 2º lugar nas eleições da Bolívia), Marcos Arruda, José Maria (presidenciável do PSTU), D. Demétrio Valentini (bispo de Jales e Presidente da Cáritas Brasileira), João Pedro Stédile (MST e Via Campesina), Luiz Basségio (Grito dos Excluídos Continental), Ivo Polleto (Assessor da Cáritas Brasileira e das Pastorais Sociais), dentre outras figuras de histórias de luta e resistência.

Dentre as muitas recordações daquele rico evento, das grandes discussões, encaminhamentos que definimos no coletivo, posso lembrar também das mesas de bar que dividi com essas figuras; do aparato policial que nosso hotel mereceu por hospedar a figura de Evo Morales, um quase presidente. Era polícia pelo arredores do hotel, pelos corredores, por todos os lugares, que dava até medo! Da minha estréia com gás lacrimogênio numa manifestação que fizemos em frente ao hotel, que abrigava uma reunião de ministros da economia dos países latinoamericanos, fortemente reprimida pela polícia; a disposição e a bravura de D. Demétrio de enfrentar a polícia e o gás, enfim, diversos acontecimentos marcaram aquele simpósio.

Mas um fato, uma história contada, no avião de regresso ao Brasil, pelo líder sindical Zé Maria(PSTU), já presidenciável na época, não me sai da lembrança até hoje e que talvez ajude a compreender a insensibilidade do hoje Presidente da República Luís Inácio com a greve de fome do seu companheiro de fundação do partido, Manoel da Conceição. Lula não sabe o que é uma greve de fome.

Na viagem, tive o prazer de sentar bem ao lado do Zé Maria, ex-colega de Lula nas lutas sindicais do ABC, com quem pude conversar longamente. Ele, já em uma roda ampliada dentro do avião, contava que quando foram presos – ele e Lula e outros companheiros do novo sindicalismo – resolveram fazer uma greve de fome na cadeia. Todos aderiram, virou notícia rapidamente na imprensa nacional e internacional. Tal não foi a decepção quando os companheiros descobriram que Lula, espertamente, estava furando a greve de fome, recebendo barras de chocolate e comendo às escondidas. Assim é Lula, um brasileiro, esperto, macunaímico.

De modo que a greve de fome de Mané, Dutra e Teresinha pode passar a largo do “mole coração” e das lágrimas midiáticas do presidente. Lula, além de ignorar o martírio histórico, a importância de Manoel da Conceição para o partido e para os movimentos sociais no mundo, como tem demonstrado nesse caso e no episódio de D. Luiz Cappio, não sabe o que efetivamente significa uma greve de fome.

Marcos Arruda se solidariza a Mané e critica PT nacional


Arruda, intelectual e ativista por uma outra economia possível

Marcos Arruda, um dos expoentes mundiais da Economia solidária, da luta por Justiça e Direitos Humanos, autor de diversos livros, um dos articuladores do Fórum Social Mundial e que, assim como Manoel, na ditadura militar foi preso e torturado à exaustão, se pronuncia em carta (abaixo) em favor do líder camponês maranhense e dos que se juntam contra a opressão imposta pelo PT nacional aos petistas do Maranhão.

Arruda é daqueles que já não acreditam que o PT de Lula e José Dirceu continue sendo um instrumento de luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil. Sua lógica, sustentada no que eles chamam de “centralismo democrático”, passou a ser o poder pelo poder, custe o que custar. Para Dirceu e seus asseclas os fins justificam os meios.

Leia, em seguida, a bonita e profunda carta de Marcos Arruda:

Querid@s,

Ontem saí da primeira sessão da II Conferência Nacional de Economia Solidária (II Conaes), aqui na Esplanada dos Ministérios em Brasília, e fui com Maria Cláudia visitar o nosso bravo Manoel.

Ele estava na enfermaria da Câmara de Deputados, recebendo soro e fazendo repouso. Está indignado com o tratamento que a direção nacional do PT está dando ao diretório regional do PT no Maranhão, que decidiu aliar o PT com o PSB e o PCdoB no estado para lançar candidaturas próprias ao governo, câmara e senado, rejeitando uma aliança com o PMDB para apoiar Roseana Sarney para o governo do estado. Ele sabe que o PT continua sendo comandado de forma autoritária pelo José Dirceu, com um único objetivo que é o poder do Estado, por qualquer meio, mesmo o mais espúrio. Mas Manoel achava que havia espaço no PT para a luta política e ideológica. Começa a se confirmar para ele o que para muitxs de nós já é uma realidade: o PT não é mais um meio de organização e luta política dos trabalhadores e trabalhadoras para lutar por um Brasil que queremos.

Manoel conseguiu uma importante mobilização. Líder camponês no seu estado, ele foi preso e torturado durante o governo de José Sarney no Maranhão, nos anos 60, e de novo nos anos 70 pela ditadura militar. Hoje ele é líder do cooperativismo rural no sul do Maranhão, e ativista do PT no estado. Com ele estão em greve de fome o dep. Domingos Dutra e a Terezinha. Mas Manoel é o mais idoso e vulnerável, pois já teve um AVC e tem diabetes. Nós, com a modéstia de quem respeita o Manoel como um companheiro exemplar e um ser humano excepcional, sugerimos que a vida dele não deve ser posta em risco, pois há outras formas de luta, e outras pessoas de melhor saúde que podem levar à frente a greve de fome. Ele respondeu que só espera a decisão do juiz sobre o recurso encaminhado à Justiça para sair da greve de fome. Mas ontem à noite houve uma reunião em que se construiu um acordo satisfatório, e Manoel decidiu finalizar a greve de fome.

Alívio para nós tod@s! Mas isto nos lança o desafio de colaborar com mais vigor ainda com a luta dos maranhenses contra a imposição da aliança espúria PT-Roseana Sarney no Maranhão, e pelo respeito da Direção Nacional às decisões dos estados. Sabemos que Dirceu e déspotas usam o conceito de “centralismo democrático” para dirigir o PT e outros agrupamentos de cima para baixo. A meu ver, este método só é justificável em tempo de guerra sangrenta, e assim mesmo sob condições. A meu ver, não se constrói democracia com centralismo e sem diálogo. Portanto, tudo que pudermos fazer para contribuir com a luta de Manoel, Domingos e Terezinha irá reforçar a possibilidade de uma vitória dessa luta e vai aliviar Manoel do peso moral que o levou à greve de fome. Manifestações de solidariedade com a luta dele são benvindas.

Hoje Manoel falará ao plenário da II Conaes. Depois enviarei mais notícias.

Abraços solidários,
Marcos Arruda

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Deu no IG: Petista histórico adere a greve de fome e preocupa time de Dilma


Mané da Conceição, já debilitado, resiste com dignidade

Com saúde frágil, fundador do partido tem histórico de militância contra família Sarney e contesta intervenção em favor de Roseana

Ricardo Galhardo, iG São Paulo 14/06/2010 19:39

Quando o deputado Domingos Dutra (PT-MA) anunciou que entraria em greve de fome contra a decisão da cúpula nacional do PT, que obrigou opartido a apoiar a reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão, pouca gente na direção do PT deu importância. “Se depender do PT ele vai morrer de fome”, disse um dirigente.

A situação mudou de figura no último domingo, durante a convenção que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, quando chegou ao conhecimento da direção partidária que Manoel da Conceição havia aderido à greve de fome de Dutra. “Isso é sério”, disse o secretário nacional do PT, José Eduardo Cardozo, quando soube da notícia.

‘PT doou o partido para Sarney’, diz deputado em greve de fome – Manoel da Conceição é descrito pela revista Teoria e Debate, da Fundação Perseu Abramo, braço intelectual do PT, como “sem dúvida uma das mais importantes lideranças camponesas do Brasil em todos os tempos”. Mais velho entre os fundadores do PT ainda vivos, Mané, como é conhecido, está com 75 anos, tem diabetes, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em 2002 que quase o matou e até hoje causa dificuldade na fala, mas não abalou sua disposição de enfrentar a imposição da direção partidária ao PT maranhense.

“Vou até o final, até ver o resultado. Ou eles tiram a intervenção no Maranhão ou me expulsam do partido. Senão, eles vão me ver morto. A última vez que comi foi na quinta-feira”, disse Conceição, por telefone, ao iG.

Nascido em um pequeno vilarejo no sertão do Maranhão, expulso das terras da família por um latifundiário corrupto, Conceição já passou por situações muito piores do que a greve de fome iniciada quinta-feira.

À Teoria e Debate, ele relatou da seguinte forma um massacre de jagunços contra camponeses que presenciou em 1958 e escapou com vida por milagre: “A casa era um salão grande de um morador, da família Mesquita. Eles eram evangélicos da Igreja Batista. Aí entrou um dos jagunços e matou, sem troca de conversa, cinco pessoas, a bala e punhaladas nos rapazes e em uma senhora de mais ou menos 75 anos, que gritava na sala: ‘Não mate meus filhos!!’ Só que já tinha três rapazes mortos no chão. Deram um tapão na cabeça dela, jogaram a mulher no chão e cravaram nas costas o punhalão.

Ela ficou rodando no chão, esvaindo em sangue. Uma criança de 3 anos, vendo os mortos no chão, corria gritando: ‘Papai, papai…’ Um dos jagunços pegou essa criança e deu uma estucada numa parede de taipa que a cabeça lascou, os miolos se espatifaram no salão”.

Enfrentamento – O histórico de enfrentamentos contra a família Sarney remonta à década de 60. Em 1965, seduzido pelas promessas de reforma agrária do então jovem líder progressista José Sarney, Conceição mobilizou os camponeses do interior maranhense e ajudou a garantir a Sarney a maior votação até então para o governo do estado. Três anos depois ele foi baleado pela polícia comandada por Sarney durante uma reunião de líderes camponeses. Passou mais de uma semana largado em uma cela sem médico nem remédios.

A perna baleada gangrenou e foi amputada em um hospital de São Luís. “Depois o Sarney me visitou no hospital e tentou me comprar oferecendo emprego para mim e para minha mulher, uma casa e uma perna mecânica. Em troca queria que eu trabalhasse para ele. Recusei e fui preso outras nove vezes a mando do Sarney. É por isso que nunca, em hipótese alguma, aceitarei apoiar a oligarquia representada pelos Sarney no Maranhão”, disse Conceição, que no 4º Congresso Nacional do PT, em fevereiro, foi citado nominalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu discurso.

A direção petista até agora não procurou Conceição e Dutra para conversar. O único interlocutor até agora foi o líder do partido na Câmara, Fernando Ferro (PT-PE). Dutra é visto internamente como opositor já há algum tempo. “Esta greve de fome é uma violência contra o PT”, disse um parlamentar de alta patente.

A dupla de grevistas conta com assistência médica da Câmara. “Hoje (segunda-feira) o médico veio me ver três vezes”, disse Conceição. Apesar disso o temor na direção petista é grande quanto aos estragos que uma possível imagem de Conceição deixando o plenário da Câmara em uma maca possam causar à candidatura de Dilma e à imagem do partido.